22/02/2011

Da impossibilidade do diálogo - Luzes na Escuridão



O ser humano é um animal essencialmente social, ou seja, age através da linguagem, dos signos, ou seja, é um ser que vive em função da comunicação, do contato com o outro, seja verbal ou não-verbal. Ao assistir o longa Luzes na Escuridão (Laitakaupungin Valot, 2006), o espectador sente um estranhamento que exige dele uma necessidade de um agir comunicacional com a própria obra, como uma maneira de suprir as carências de diálogo que seus personagens possuem.

Contando a história de Koistinen (Janne Hyytiäinen), um homem solitário que trabalha como guarda-noturno em um shopping center de Helsinki e tem pouquíssimos amigos e, mesmo com eles, trava uma relação desconfiada. Certo dia, Koistinen conhece Aila (Maria Heiskanen), por quem se apaixona e através da qual uma quadrilha de gângsteres se aproveita de sua paixão e sua posição como vigilante para tramar um assalto a uma joalheria do shopping, incriminando Koistinen. Com essa trama simples, Kaurismaki destila uma crítica à impossibilidade de um contato verdadeiro na sociedade contemporânea, onde os personagens parecem viver em uma “supra-realidade”, onde os silêncios teatrais e os olhares desconfiados se fundamentaram como base de uma comunicação torpe, mesmo sendo a única que conhecem. Filmando de uma maneira convencional que lembra os filmes das décadas de 50, o diretor emprega planos estáticos com poucas movimentações e uma edição antiquada baseada no simples “plano-contraplano” de uma forma que desestabiliza o espectador ávido pelo ritmo frenético e pela câmera na mão comumente usadas no cinema moderno.

Se a linguagem cinematográfica opta pelo convencional, o mesmo não pode se dito em relação ao trabalho do elenco, pois seus intérpretes caminham na contracorrente da estética cinematográfica tradicional: o rosto frio, quase inexpressivo dos atores, denota uma carência – ou até ausência - de alma na maneira como tratam uns aos outros. Formando algo como telas em branco que o público possa preencher com sentimentos e expressões que venham dele mesmo, o trabalho dos atores nos permite questionar o sentido ou até mesmo a existência de um diálogo real, efetivo na nossa sociedade. Por mais que se dirijam ao outro, todos parecem falar exclusivamente consigo mesmos, como se perguntassem a si mesmos qual a razão de um mundo tão verborrágico como o nosso. 

De onde vem essa overdose de comunicação? Qual o valor do olhar e, principalmente, do gesto na restauração das mazelas que carregamos por tanto tempo? A cena final traz de volta essa esperança, por que sempre precisamos dela para seguir em frente, por mais que não acreditamos piamente naquilo que a redenção nos promete. 
 

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