16/02/2011

III Festival do Júri Popular – Competitiva 01


 Angeli 24h (Beth Formaggini, 2010)

Contando com uma edição dinâmica que se alterna em momentos velozes e lentos para compor um cenário aparentemente caótico que tenta traduzir as sensações do criar que Angeli sente na sua criação. O famoso cartunista comenta as influências para sua arte – em sua maioria, Laerte e, estranhamente, Bob Dylan - e as mudanças que experimentou ao longo de sua trajetória - como a chegada da maturidade e a decisão de matar personagens icônicos como Rê Bordosa. A sensação do espectador ao final do curta é de uma saudade compartilhada, como se fossem pouquíssimos minutos para falar de um artista e uma obra que influenciam e são influenciada pela sociedade veloz e fragmentária, mas principalmente pelos tipos que ele encontra na rua, como ele mesmo.


A Dama do Peixoto (Douglas Soares e Allan Ribeiro, 2010)

Há pessoas que deixam sua marca em outras pessoas, em situações e em lugares, como a personagem título deste curta singelo e cativante, em que depoimentos de diversas pessoas de um bairro de Copacabana atiçam a imaginação do público a respeito de uma mulher que freqüenta assiduamente a praça do lugar. Sem vermos nem o rosto dos depoentes nem da senhora em questão, a diretora utiliza-se de uma edição simples, porém fluida, de diversas imagens da praça a fim de que o espectador crie em sua mente uma imagem particular e única da controversa mulher que, por suas atitudes e comentários, marca o cotidiano daquelas pessoas... e, por fim, o nosso.


Amigos Bizarros do Ricardinho (Augusto Canani, 2009)

Ressaltados através de um cotidiano comum de uma agência de publicidade – mais especificamente, o trabalho do arte-finalista -, os elementos excêntricos que o estagiário da empresa traz para os outros empregados terminam por resgatar um caráter humano que havia se perdido ao longo do tempo naquele lugar. Se o restante do elenco consegue ser apenas “correto”, a fragilidade bem humorada do protagonista cativa o espectador desde o início, deixando nas mãos de Canani um roteiro enxuto e bem desenvolcido, uma edição criativa e uma trilha sonora marcante que conseguem extrair humor leve e uma sutil reflexão no espectador sensível.


Só mais um filme de amor (Aurélio Aragão, 2010)

Composto por videos caseiros feitos em câmeras digitais, Emanuel e Gabriela se utilizaram da tecnologia para enviar “cartas de amor” audiovisuais um para o outro desde o momento em que precisaram se separar – ela, em Paris; ele, no Rio de Janeiro – até o inevitável reencontro de ambos seis meses depois. Passando pelos momentos de descontração diante da câmera – onde a intimidade compartilhada se fazia presente através de performances bem-humoradas de ambos – e encarando o vazio de um distanciamento de diálogo, Aragão mescla com fluidez as imagens e os depoimentos dos personagens, conquistando o espectador com a imagem que denota o reencontro dos dois.


Contagem (Gabriel Martins e Maurilio Martins, 2010)

Sendo desenvolvido através de uma edição não-linear, este trabalho encara quatro pontos de vista sobre uma história onde nada consegue ficar muito claro para o espectador. As virtudes e vicissitudes de seus personagens ora transparecem ou se escondem através de uma obra que engana o espectador inicialmente ao mostrar uma mudança repentina através do acaso, mas em seguida exibe uma intenção por trás deste mesmo acaso. Com boa fluência na montagem, a direção de atores não surpreende, mas consegue resumir bem o principal mote do curta: nenhuma ação está isenta de intenção ou responsabilidade: basta que conheçamos o ponto de partida de uma para tentar compreender seu efeito.

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