20/02/2011

Inverno da Alma e a aridez do humano



Contando sua história na região Centro-Oeste dos EUA, Inverno da Alma (Winter's Bone, 2010) encontra um elemento humano que se instabiliza entre o urbano e o rural, formando uma rede de conexões de uma terra sem lei, em que Ree Dolly (Jennifer Lawrence) inicia sua caçada por seu pai no submundo do crime, depois que a polícia o declara foragido. Em sua procura, Ree tem de encarar a vida que o pai - um traficante de drogas - deixou para trás, enquanto tenta encontrar respostas para o que lhe aconteceu e uma maneira de não deixar a família entrar em colapso. 

Acostumamo-nos a ver um Oeste fervente nos espaços, porém nesta obra essa aridez surge dentro dos personagens, como se a ruralidade tivesse feito emergir um ódio inconsciente do outro, uma incapacidade de ser cordial sem que isso lhe traga algum benefício. Ree tenta a todo custo encontrar seu pai e, posteriormente, encontrar seu corpo morto a fim de manter sua casa e sua família debaixo das suas asas, por mais que tenha de enfrentar os desgostos e a violência das pessoas que lhe cercam, pois sabe que seus irmãos são os bens mais preciosos que ela poderá ter nessa vida dolorida.

Observando o excelente trabalho do elenco, Jennifer Lawrence compõe uma Ree forte, mas deixando que o espectador conheça a humanidade dessa mulher que aprendeu a sobreviver incólume num ambiente que lhe força sempre a se destruir. Assim como Lawrence, Hawkes parece, a princípio, um monstro em forma de gente, mas, posteriormente, conhecemos sua faceta mais humana, porém não com algum momento choroso, mas deixando que o próprio personagem aja naturalmente conforme essa fragilidade.

Granik orquestra todo esse elenco dentro de um roteiro que, por jogar o espectador abruptamente naquele universo sem conhecer suas regras, deixa-o desnorteado à procura de alguém em quem confiar nessa rede imprevisível de atitudes e sentimentos. Como por vezes, acontece nas nossas vidas complexas e intrincadas, sem floreios ou lições de moral.

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