30/07/2011

Jogada de Risco – Prefácio de um Cineasta

Hoje, postei no Cine Lupinha.

Filme de Hoje: Jogada de Risco (Hard Eight / Sydney, 1996, Paul Thomas Anderson)




Trecho: "Ao analisar seu primeiro longa-metragem, percebe-se claramente alguns dos elementos que o consagraram: as elegantes e dinâmicas movimentações de câmera e a construção ou dissolução de relacionamentos familiares - geralmente, paternais - de maneira insuspeita"


Do Feminino e Masculino - Ricky



Desde as primícias da Humanidade, a composição familiar centra-se na figura feminina como detentora da “organização” do universo do lar, relegando-se ao homem o papel de provedor material por meio do trabalho – na caça, na agricultura ou na empresa. A mulher, então, começa a desenvolver um perfil de cuidadora de todos os membros da família, dedicando, muitas vezes, sua vida mais para o bem estar dos outros do que de si mesma.

Em Ricky (idem, 2009, François Ozon), o diretor opta por mostrar a constituição de uma família contemporânea “convencional”: mãe solteira, Katie, criando uma filha pequena, Lisa, que, ao se relacionar com um colega de fábrica, Paco, termina por ficar grávida e trazendo o novo namorado para morar na sua casa, o que desestabiliza as noções de harmonia familiar da primogênita. Com roteiro do próprio Ozon, o longa mescla realidade e fantasia com o nascimento do pequeno Ricky, que passa a desenvolver características diferentes das outras crianças: um par de asas. Por motivos que o diretor jamais esclarece, a mãe começa a perceber pequenos hematomas nas costas do menino, que, com seu crescimento, transformam-se em asas. A mãe, então, passa a escondê-lo dos vizinhos e dos médicos, até que uma inesperada exibição no supermercado chama atenção da cidade e da mídia, levando a moça a se enclausurar em seu próprio apartamento.

Optando pela sutileza, Ozon enquadra belamente seus atores -principalmente o ator mirim - com uma fotografia cotidiana e que alterna entre o colorido e o quase desbotado para oferecer o aspecto de realidade / fantasia que almeja imprimir. Sua trilha sonora, com suas doses cômicas, fantásticas e dramáticas, e montagem, que ora suprime ou ora dilata a sensação de passagem de tempo, oferecem ao longa ares que distinguem Ozon de outros cineastas europeus, como se mesclasse o painel real e doloroso dos irmãos Dardenne com a fantasia banal de Jean-Pierre Jeunet.

Por mais que invista em uma abertura deslocada do contexto da protagonista - mostra Katie, depois de Ricky estar crescido, indo em uma agência de adoção para entregar o menino para algum casal que consiga criá-lo, o que destoa de seu comportamento ao longo do filme -, o diretor suplanta essa e outras pequenas falhas com uma despretensão que conquista o espectador pela leveza com que é conduzida. Ao final do longa, resta ao público emocionar-se com a trajetória dessa mãe que, pela bem tecida metáfora empreendida pelo autor, sente a necessidade de deixar seu filho fluir pelo seu próprio curso distante dos seus cuidados, e dessa filha, que também abre espaço no seu coração para um padrasto que sempre se interessou em agradá-la, formando um núcleo familiar atípico, mas harmonioso à sua própria maneira.

Sem Passado e Sem Destino



Cotidiano. Rotina. Adestramento. Palavras que geralmente usamos para representar o dia-a-dia de casa, trabalho, estudo em que nos preparamos para organizar uma vida adulta saudável e desejável. Ignorar a pretensa importância de se estabelecer como um homem / mulher segundo estes preceitos torna-se, então, objetivo de todos aqueles que caminham na contravenção.

Em Sem Destino (Easy Rider, 1969, Dennis Hopper), Wyatt e Billy tornam emblemas desta contracultura ao protagoniza uma viagem pelos Estados Unidos no exercício de um estilo de vida alternativo aos ideais que tantos como eles prometeram anteriormente: uma existência fluida sobre as rodas de uma motocicleta desconectada das raízes que um dia cultivaram na família ou no trabalho. No meio de sua jornada ao encontro de si mesmos e de sua própria noção de espaço, atravessam desfiles, prisões, festas regadas a marijuana e os olhares preconceituosos e violentos dos interioranos conservadores.

Para alimentar seu discurso, Hopper emprega uma trilha sonora agressiva e pontual que conota sua personalidade intempestiva, acompanhada de uma edição que, por meio de cortes que oram usam, ora ignoram o naturalismo griffithiano, prenuncia uma atmosfera videoclíptica e propõe ao espectador novos olhares sobre aquilo que está vendo. Ou seja, Hopper não faz somente um filme sobre outro modo de vida, ele se declara como um novo modo de fazer filmes, que influenciou grandemente os artistas que o sucederam.

Crumb – o Homem como criador e criação


Hoje, postei no Cine Lupinha.


Trecho: "Zwigoff tece uma obra que versa sobre pessoas marginalizadas à sua própria claustrofobia, desvelando um retrato mais feio e sincero de uma sociedade regada pelo ideal de felicidade desgastado que almeja sempre perpetuar."

28/07/2011

Meia Noite em Paris – Ode à Arte e ao Tempo



Ao construir obras de arte, o ser humano procura de alguma forma relacionar-se com o tempo e o contexto que vivencia. Criando símbolos e mitos que comunicam estados, pensamentos e qualidades de um chamado “mundo interior”, os artistas podem, por conta dessa dedicação ao criar, distanciar-se, por vezes, do ordinário, do comum.

O tempo se dilata e a beleza das ruas parisienses se agiganta com a bela abertura de Meia Noite em Paris (Midnight in Paris, 2011, Woody Allen), em que o diretor destila suas neuroses carregadas de imaginação na pele de Gil Pender, um roteirista hollywoodiano que, insatisfeito com sua carreira, reescreve constantemente um romance que esconde a sete chaves das críticas alheias. Sua vida começa a mudar quando, em viagem com sua irritante noiva à Cidade Luz, resolve caminhar pelas vias parisienses e entrar em um carro antigo que o conduz a um mundo nostálgico, em que grandes artistas – como F. S. Fitzgerald, Ernst Hemingway, Picasso, Dali e Cole Porter – festejam e dialogam ad infinitum sobre o fazer artístico que Pender tanto aprecia.

Decepcionado com os “sub-artistas” do mundo contemporâneo, Pender anseia ardentemente habitar a Paris dos anos 20, que estima pelo intenso fervilhar criativo que proporcionou no encontro de tantas mentes inventivas. Nesse admirável mundo antigo, conhece a bela e sensível Adriana, que, surpreendentemente, aprecia o passado de glórias da Belle Époque de 1900 em detrimento do tempo que vivencia. Aludindo à A Rosa Púrpura do Cairo, a metalinguagem de Allen torna prosaicos os elementos fantásticos de um roteiro despretensioso que reflete e sente o prazer da Arte, mesclando realidade e fantasia em uma sofisticada jornada do homem rumo ao seu próprio tempo. Em seu elenco, Allen aprofunda as personas representadas por Owen Wilson e Marion Cotillard através de um improvável romance entre seres de temporalidades distintas, relegando, porém, seus coadjuvantes a estereótipos fúteis e pedantes em uma narrativa de segundo plano que, pelas presenças magnéticas de Rachel McAdams, Michael Sheen e Kathy Bates, jamais perde o charme. Nesse ourobouros de nostalgia, um universo alleniano se constrói através de belos enquadramentos e de uma fotografia que pinta um cotidiano luxuoso e uma trilha sonora que desvela um encanto pelo clima parisiense, conotando um amor não somente pela Cidade Luz, mas pelas pessoas que a tornaram e ainda tornam, de alguma forma, única.

Mesmo optando por um incômodo didatismo ao expor as conclusões de seu protagonista no ato de escolher entre realidade e fantasia no clímax da narrativa, Allen nos faz sentir e compreender a necessidade e a complexidade desse inevitável desígnio pelo real, por mais que almejemos vivenciar devaneios que nos conduzam para além de nós mesmos, à vanguarda de nosso universo interior.

10/07/2011

A Garota da Capa Vermelha ou Como ‘Crepuscularizar’ Um Filme?



Nessa onda de remixar narrativas antigas, um dos maiores sucessos dos últimos anos - Crepúsculo - parece povoar o inconsciente de todo filme juvenil que invista em triângulos amorosos com seres sobrenaturais. Depois da fase vampiresca, parece que estamos adentrando na fase lobisomem, com A Garota da Capa Vermelha (Red Riding Hood, 2011, Catherine Hardwicke) recontando a história de Chapeuzinho Vermelho com um ar mais juvenil, dark e lascivo para o conto da menina que precisa aprender a lidar com situações inesperadas em sua cidade com a invasão de um lobo em sua cidade.

Valerie (Amanda Seyfried) enrosca-se em um romance com Peter, seu amigo de infância, ao mesmo tempo em que o vilarejo em que habita começa a sofrer os ataques de um lobo que atacou e matou sua irmã, além de ser prometida em casamento a Henry, o objeto de desejo de sua falecida irmã. Ao longo da narrativa, entra-se num jogo de gato e rato, em que todos são suspeitos de serem o criminoso da vez, com reviravoltas que surpreendem os espectadores mais impressionáveis.

Hardwicke, no entanto, investe em um triângulo amoroso sem graça e previsível a fim de despistar o espectador, que, ao saber de antemão o final da história, termina por tentar se divertir em descobrir a identidade do Lobo ou rir da presença exagerada de Gary Oldman como Padre Solomon, que chega à cidade para exterminar o animal assassino. Por mais que o design de produção e a fotografia de Hardwicke acertem o tom dark juvenil para trazer vida para essa nova versão, faltou um pouco mais de cuidado e esforço ao tentar reescrever a matriz.

(Re)escrever o Real - Os Irmãos Grimm



As narrativas, os mitos, os ritos sempre povoaram a mente do ser humano e, até hoje, continuam a se perpetuar dentre as mais diversas mídias, pois a construção de histórias – reais ou ficcionais – sempre nos ajudará a lidar com situações que surgem diante de nós. Dentre tantas histórias que conhecemos, os contos de fada tornaram-se universais pelas mãos e mentes de dois irmãos que resolveram publicar histórias que há muito tempo eram contadas e recontadas pelo povo: os Irmãos Grimm. O longa digirido por Terry Gilliam, Os Irmãos Grimm (The Brothers Grimm, 2005, Terry Gilliam), decide, no entanto, não escrever a história dos irmãos como, de fato, ela aconteceu, mas permitir aos dois escritores mergulharem no universo dos contos de fada que eles mesmos publicaram – como se fosse um “registro-x” da verdadeira História.

O longa dirigido por Terry Gilliam reúne diversas referências a contos como Chapeuzinho Vermelho, João e Maria e Rapunzel para contar a história de Will (Matt Damon) e Jacob (Heath Ledger) Grimm, que, com doses de ilusionismo e charlatanismo, sobrevivem de aplicar golpes em cidadãos que almejam ver os seres sobrenaturais que assombram os redutos de seus vilarejos destruídos ou escorraçados. Os medrosos e estranhos habitantes das cidades que os Grimm visitam desconhecem que eles mesmos forjam os ataques das bestas e bruxas a fim de angarias alguns trocados com o medo e a ignorância alheia. No entanto, quando são incumbidos de desmascarar o truque de outros charlatães que estão aterrorizando a cidade de Margraden ao seqüestrar adolescente, eles percebem que existem outras ameaças sobrenaturais verdadeiras com as quais eles precisarão lidar.

Enquanto que Will caracteriza-se mais pelo ceticismo e praticidade, em Jacob predomina a sensibilidade e o intelecto, tornando-se o responsável por redigir as desventuras dos irmãos em contos que são reunidos em um livro. A partir deste mote, Gilliam trabalha com diversas referências ao universo habitados pelos personagens dos irmãos Grimm, trabalhando com um elenco variado – além de Damon e Ledger, temos Peter Stormare, Monica Bellucci e Jonathan Pryce – e com uma direção de arte e uma fotografia desbotados que caracterizam uma sujeira da Alemanha da época, dominada pelos franceses. Da mesma forma, a trilha sonora tenta capturar o espírito tradicional e fantástico da aventura, compondo um cenário de fábula dark que atende aos públicos juvenis e adultos. Com um Matt Damon no piloto automático e um Heath Ledger que investe nas caretas para tentar trazer um Jacob mais humano e menos melancólico, o ex-Monty Python investe em efeitos especiais terríveis para sustentar a narrativa ao invés de apostar na sutileza, o que, talvez, teria melhorada o resultado da empreitada, que permanece no terreno dos clichês para proporcionar um entretenimento passageiro e esquecível.

Precisamos de histórias para lidar melhor com os problemas e alegrias que vivenciamos, admiramos o cinema por nos permitir viajar por essa estrada de auto-reconhecimento e entretenimento. No entanto, por vezes, não encontramos uma história ou formas de contá-la que nos atraiam ou nos incomodem o suficiente para mudar nossa concepção sobre os fatos.

03/07/2011

Redundância e Clichês + Plumas e Paetês = Burlesque


Hoje, postando mais uma vez no Cine Lupinha.

Filme de Hoje: Burlesque (idem, 2010, Steve Antin)



Bambi e os Ritos de Passagem

Hoje, postando de novo no Cine Lupinha.

Filme de Hoje: Bambi (idem, 1942, vários)


Laços de Ternura e de Aspereza


Hoje, postando no Cine Lupinha.

Filme de Hoje: Laços de Ternura (1983, James L. Brooks)