27/07/2009

É possível o homem resistir à bárbarie? Marcas da Violência diz 'não'


No longa de David Cronenberg, - Marcas da Violência - Tom Stall é um pacato cidadão do interior dos EUA que administra tranquilamente sua família e uma pequena lanchonete na cidade - mesmo com o diretor pincelando excessivamente nessa carga de "perfeição" dessa família. No entanto, depois que dois sujeitos o enfrentam e ele impede o assalto e morte dos fregueses ao matar os dois, a mídia o expõe como herói da cidade.

Pouco tempo depois, inimigos do passado começam a revelar o passado negro do sujeito: Tom Stall, na verdade, foi Joey Cusack, assassino impiedoso, mercenário da pior qualidade. Ele, após fugir da Filadélfia, decidiu mudar de vida e personalidade, escondendo seu passado de todos na cidade, até da esposa. Quando o passado retorna, então, precisa lidar com esse antigo eu de volta ao seu corpo depois de três anos. A família passa a vê-lo e si mesma com outros olhos, a polícia suspeita de seus atos. A máscara, enfim, cai. Será que é possível fugir de nossos instintos? Ou, pior, será que é possível aderir a uma nova vida sem negar aquilo que fomos um dia?

O passado pode ser esquecido, mas não apagado. A família, ao final de tudo, decide suportá-lo. Talvez pela conveniência, talvez pelo amor. Mas, como atesta o filme, nada mais será como antes. Quando encontramos a frustração em alguém e percebemos sua humanidade, nossos olhos comunicam este sentimento. Mas também podem mostrar o perdão, a aceitação. Todos nós cometemos violência contra alguém, contra nós mesmos. É um dos nossos instrumentos de defesa.

Cronenberg transmite a honestidade e contundência de sua mensagem com seus planos fortes e sólidos e com um roteiro bem construído e imprevisível, que evita a exposição excessiva de sua personagem - deixando suas principais marcas na vida familiar. Esse sentimento foi bem capturado pelas interpretações de Viggo Mortensen e Maria Bello, que compõem com coragem e dedicação dois seres humanos passionais que transmitem uma idéia difícil de aceitar: "Nunca seremos imunes à barbárie, seja ela física ou psicológica. Mas o pior talvez seja ceder a ela."

25/07/2009

Harry Potter e o Enigma do Príncipe: Sobre a Confiança e a Perda


Como restaurar um coração partido? Como entregar seu amor e dedicação? Como ver seu esforço desprezado pela indiferença alheia? Alguns dos questinamentos que perpassam as desventuras de Harry Potter e o Enigma do Príncipe - dirigido pelo mesmo David Yates do longa anterior. No desenvolvimento bem arquitetado de seus personagens, o longa se mostra sólido e coeso, aperfeiçoando o tratamento dado ao relacionamento entre Hermione e Rony, Dumbledore e Severo, Tom Ridlle e Slughorn.

Estes relacionamentos nascem e crescem baseando-se em confiança, da mesma maneira que nós mesmo iniciamos os nossos. Entregamos nossa sinceridade e desejamos esse amor de volta, multiplicado. Mas, quando ocorre a decepção, como confiar de novo? Como levantar a cabeça e perdoar, deixar-se vulnerável novamente para que outras frustrações surjam e você perceba que, sim, ele é um ser humano, e, sim, é imperfeito como qualquer outro?

Hermione precisou aprender um pouco mais sobre a indiferença de Rony, mas, no fundo, percebe que ele a ama. Só não se deu conta deste sentimento ainda. Dumbledore sofreu a máxima consequência dessa entrega e decepção, deixando para trás um rastro de remorso em Severo. E Tom Riddle e Slughorn? O primeiro ainda ameaça a todos na figura do famigerado Voldemort, mas o segundo pôde confiar uma segunda vez em um aluno prodígio como seu antagonista: Harry Potter.

Perdoar é abrir-se para um novo horizonte mesmo estando no mesmo lugar. É deixar que as decepções surjam para criar novos aprendizados e gerar atitudes mais corretas e um relacionamento mais forte.

O ensinar e o aprender em Harry Potter e a Ordem da Fênix


Quem é capaz de ensinar? E quem se propõe a estar no lugar de aprendiz? Em Harry Potter e a Ordem da Fênix, estes papéis se invertem ao mostrar Harry ocupando, sim, o lugar de seus professores na trajetória educacional de seus amigos. Do mesmo modo que o longa atesta, a educação para a vida surge de uma prática constante, relacionada com uma teoria não-castradora que eleve o ser humano para os objetivos que deseja alcançar.

Parece fácil quando se escreve, mas essa educação informal ocorre o tempo todo, basta percebê-la e estar aberto para a (re)criação. Como repensar anos e anos de formalidades e burocracias quando se percebe em poucos instantes de projeção que aprendizado não se limita às quatro paredes de uma sala de aula, mas está nas ruas, nas palavras, nos olhares, nas pessoas. Da mesma maneira que um certo roedor chamado Ratatouille nos confronta - "Qualquer um pode cozinhar" -, esse longa nos mostra que qualquer pode ensinar. Nem todos podem tê-lo como dom ou vocação, mas todos desejam esse desejo de ser responsável pelo aprendizado de outra pessoa.

Talvez seja um dos modos com que pais, professores, avós sentem que cumpriram seu papel nesse mundo: quando transmitiram aquilo que viveram para outro ser humano e ver que esse trabalho frutificou. Pode parecer tolo ou fútil, mas os momentos em que Harry Potter ensinou seus amigos foram essenciais para sua auto-confiança, para que pudesse se sentir, enfim, responsável. Mais do que aprender, muitas vezes, o ensinar nos fortalece e nos guia para nossa verdadeira vocação.

A reificação do contato por A Garota Ideal


Em determinado momento do longa de Craig Gillespie - A Garota Ideal -, Lars recebe para Bianca, sua namorada (uma boneca encomendada por um site especializado em objetos eróticos), um vaso de flores entregue por uma senhora da igreja que ele freqüenta. Sua resposta? "Essas flores não são de verdade, Bianca. Elas vão durar para sempre." Da mesma maneira, podemos nos identificar com o relacionamento ideal que tanto Lars quanto nós procuramos: um relacionamento eterno, perfeito.

Quais as garantias de se obter um contato desse tipo? Com as coisas. Elas estão imunes a sentimentos, frustrações, incompletudes. Acreditamos ser perfeito um relacionamento desse tipo: quando não precisamos nos expor para conseguir um sentimento recíproco, quando não precisamos amar para receber em troca. Os inanimados não precisam retribuir. Como pensar em relacionamentos humanos perfeitos desse modo? Impossível, digo e provavelmente todos vocês repetirão. Lars, inconscientemente, aprende a se relacionar com as pessoas, a deixar que a "vida", a participação que os objetos têm na sua vida perca força e dê espaço para os relaiconamentos de verdade. Essa perfeição que enxergamos na relação com os objetos, na verdade, é a perfeição não que desejamos encontrar nos outros, mas em nós mesmos. As pessoas ao redor de Lars, mesmo que não o mencionem, também sentem-se desse modo. Tanto que, na tentativa de aproximar o rapaz solitário de seu convívio, acolhem sua "namorada" e a fazem participar de suas atividades para que o rapaz também o faça. Com o tempo, porém, a "moça" passa a fazer parte da vida de cada um deles, tornando-se o personagem mais querido, dno de uma personalidade quase palpável de tão presente. Bianca torna-se, desse modo, uma "garota real".

Graciosos, sinceros e corajosos. É como posso classificar a construção dramática tanto do roteiro de Nancy Oliver como da interpretação de Ryan Gosling, que nos transportam para o universo de Lars e nos fazem compreender sua situação, assim como todos ao seu redor. Viver uma mentira muitas vezes é um dos modos de nos fazer enxergar a verdade. Revelamo-nos mais quando tentamos nos enganar do que quando tentamos enganar aos outros.

Como, então, amadurecer? Quando tornar-se adulto para os relacionamentos? Nunca, atesta o longa. Pois nunca esquecemos nossas meninices e imaturidades. Afinal, são elas que nos fazem seguir em frente.

18/07/2009

Duro de Matar 2 e a Sociedade do Espetáculo


Sim, também me surpreendi ao decidir escrever após a experiência de assistir Duro de Matar 2, aventura de ação do começo dos anos 90 orquestrada por Renny Harlin e protagonizada por um ascendente Bruce Willis. Mas, ao observar as referências do longa ao espetáculo perpetuado pelas imagens da mídia, não pude ignorar um paradigma da própria sociedade dos anos noventa.

Os anos 90 presenciaram mudanças significativas no âmbito midiático, que se perpetuam e se extrapolam constantemente nos idos do novo milênio: a representação através das imagens. Explico-me: desde os primórdios da Humanidade, o homem procurava, sim, criar imagens para representar, figurar aquilo que era e o que podia ver. Com o tempo, a sofisticação e a evolução das técnicas pictóricas terminou levando às diversas escolas de pintura, escultura, passando pela fotografia, chegando ao cinema e a televisão, caracterizando, assim, a explosão de um dos instrumentos de comunicação humana: a imagem.

Nessa nova sociedade em que vivemos, a imagem registra o "real" ou aquilo que acreditamos que o seja, torna-se um meio através do qual acreditamos nos fatos que vivenciamos. As imagens terminam ganhando mais expressão e espaço quando se encontram na mídia, quando os comunicadores estampam nos telejornais e revistas fotos, sons e textos contendo tais informações. Isso é o que nos leva ao longa: num momento em que as telecomunicações dominavam o meio militar e os centros tecnológicos, a população pouco conhecimento tinha sobre essas evoluções. John McClane representa essa sociedade pouco adepta das novas tecnologias, mas que precisa entrar em contato com ela para esclarecer os olhares obscuros sobre um possível atentado num aeroporto novaiorquino.

Num momento em que a Guerra do Golfo principiava uma batalha cuja presença da mídia interfere através do olhar imediato dos espectadores, tornando-se assim, uma "guerra na televisão", percebe-se o quanto essa presença transbordante das imagens influencia nosso cotidiano, nossa maneira de observar e receber a "realidade". Nesse bloco difuso de (in) definições, reina a Sociedade do Espetáculo - conhecida através do livro homônimo de Guy Debord-, em que se discute uma sociedade em que o "real" passa a ser legitimado pelo espetáculo, pelo que está registrado na mídia. Hoje, para que algo ou alguém possa ser considerado "existente", deve estar presente na rede de buscas Google, ter alguma imagem no MySpace, possuir um video no Youtube.

No longa, questionava-se o papel dessa mídia intrusiva, que ora auxilia o herói na sua empreitada ora atrapalha o desenrolar dos fatos. Imagine a criticidade do subtexto do filme num mundo globalizado e digitalizado como esse novo milênio, onde cada fato vulgar da vida de qualquer pessoa já é pensado para ir direto para a rede. Vivemos numa sociedade permeada pelas imagens, sim. Nesse instante, desumanizamo-nos para aderir a uma imagem, a um perfil imagético que, abstratamente, diz tudo o que é preciso saber sobre nossa personalidade.

A mídia de grande circulação pode ter sido a maior vilã dos anos 80 e 90 nos discursos contra essa sociedade do espetáculo, mas creio que, nesses novos tempos, encontramos essa "vilania" em nós memsos. Desejamos tanto ser aceitos por essa sociedade que nos submetemos a essa auto-representação através da mídia, ao invés de perceber a beleza e o poder de uma boa conversa tête-a-tête.

13/07/2009

Razão X Emoção. Quem vê o caminho do meio? O Equilibrista.


Toda a vida, somos guiados por duas retas - podemos chamá-las RAZÃO e EMOÇÃO - que na maior parte do tempo, podem ser paralelas ou confluir para um mesmo ponto, mas também se dissociar por estradas totalmente díspares. Mas o que fazer quando o desejo toma o sono, fazendo da nossa existência mero motivo para o cumprimento dessa ânsia?

Phillipe Petit, protagonista do documentário O Equilibrista, parece deixar que sua impulsividade o (des) controle. Mas não. O que o artista possui não é um desejo louco e impulsivo, mas uma meta pela qual ele batalhou arduamente, com racionalidade e (perdão pelo trocadilho) equilíbrio: atravessar as Torres Gêmeas por um fio. Com a ajuda de seus companheiros, ele possuía esse sonho desde quando soube da idéia de se construir as torres. Passou por outros monumentos - a Notre Dame, entre eles -, mas não se dava por satisfeito. Morando nos EUA, convocou seus amigos para o ajudarem na empreitada, trabalhando clandestinamente para montar os equipamentos.

Depois de anos de trabalho, finalmente o cumpriu. Atravessou as torres. Algo que as pessoas estranham, pois não há razão para fazê-lo. Não se passa nenhuma mensagem mais direta com essa intervenção. A não ser a nossa união pela vida de alguém. Talvez não exista algo que nos una mais que esse importar-se com a vida alheia. Ver Phillipe enfrentando perigos para cumprir seu objetivo emociona as pessoas, pois todos nós temos objetivos sonhos a realizar. E nos felicitamos quando alguém se supera, pois isso nos inspira a seguir em frente.

Por trás da aparente loucura do equilibrista, há tanto sentimento quanto racionalidade, mas ainda assim, seu objetivo se cumpriu: emocionar seus espectadores, fazer com que se importassem com sua vida e, de certa forma, com suas próprias.

Meu Tio e a busca pela perfeição


Ao ver o famigerado longa de Jacques Tati, Meu Tio, percebe-se um clima de nostalgia e um retorno pela infância e pela pureza, não somente das pessoas, mas de um cinema jovem, que ainda teria tanto a dizer. Com fortes referências ao cinema mudo, aos quadrinhos, Tati constrói um longa que mostra um tempo diferente do nosso, mas que se mostra ainda atual e inteligente nas suas críticas à sociedade. Dando início ao filme, encontram-se, nas ruas sujas da França, cachorros revirando latas de lixo. Um deles chama a atenção: está vestido! Logo depois, vemos que volta para a casa dos donos: cheia de bugigangas eletrônicas e pouco práticas, a residência pretende cercar seus moradores com o máximo que pode oferecer.

A partir desse ponto, vemos a relação que Sr Hulot e seu sobrinho estabelecem entre si - amizade e companheirismo - e com a casa - rejeição e incômodo. Mas por quê? As facilidades do mundo moderno não são uma evolução? Depende do modo como o utilizamos. As pais do menino se apóiam neles e fazem destes a razão de suas vidas, relegando à própria família um lugar secundário. Por isso, o menino sente-se mais à vontade com Sr Hulot: um outsider ao seu modo. Ele não se encaixa nos padrões pragmáticos da sociedade, portanto, se torna um excluído. Ou seja, lixo, excesso.

O aspecto clean e hermético da casa ajusta as relações falsas e superficiais que as pessoas estabelecem naquele lugar, como os vizinhos e amigos da família, que, mesmo em meio a uma festa, não enxergam nada além de si mesmos. Tanto que não percebem as trapalhadas de Sr Hulot e o menino para lidar com algumas traquitanas da casa. É perceptível o cuidado com que Hulot compõe suas sequências: na maior parte das cenas, vê-se um amontoado de lixo que nunca é varrido, causando um incômodo - pelo menos, em mim - para que aquela sujeira fosse retirada. A partir dessa sensação, reflito: como aceito os outsiders da sociedade e não aceio essa sujeira, esse pequeno incômodo na tela?

Essa nossa busca pela perfeição é eterna e no move. A maturidade, no entanto, se encontra em perceber a evolução nos processos e não simplesmente os resultados. Viver na utopia de habitar em um ambiente distante das imperfeições do mundo externo só nos ilude e nos isola do conato com o outro. Como atesta o final do longa, é inevitável que as coisas mudem, mas evoluir está no benefício que estas mudanças trazem para si e para as outras pessoas. Seja na relação que a criança finalmente estabelece com seu pai. Seja na mudança na vida de Sr Hulot. Aquilo que não muda é por que não existe mais.

Obs.: Essa relação com lixo, a busca pela perfeição e pela segurança, até a forma como o herói da história é construída, além da estética herdada do cinema mudo, lembra bastante Wall-E, longa de animação da Pixar.

06/07/2009

A festa da menina morta e seus tênues limiares


Imagens. Falam mais do que palavras. Com esse clichê, pode-se explicar muito da sensação de se conferir o longa de estréia de Matheus Nachtergaele - A Festa da Menina Morta: um filme que não mexe necessariamente com o coração, mas com nossas expectativas, com o que nosso raciocínio procura enquadrar e classificar

Nachtergaele mostra-se um diretor habilidoso na construção dos enquadramentos e no tempo que permite que apareçam, mas peca por momentos excessivamente teatrais e por contrastes tão gritantes na edição que mexem com a fluência da narrativa. Um mecanismo interessante - que remete muito à própria esfera de paradoxo do longa -, mas que cansa quando utilizado em excesso.Mesmo com alguns problemas típicos de principiante, o longa desconforta, perturba, pois muitos são os elementos obscuros e truncados no roteiro.

Há muito implícito nas relações entre Santinho, suas "criadas", seu pai, Tadeu. Esses nós, em nenhum momento se desvelam, o que, a uma primeira vista, incomoda, sim. Mas a atuação hipnótica de Daniel de Oliveira faz com que isso flua contundentemente, quase palpável na tela. Talvz seja essa indefinição de identidade que incomode tanto a ele e a nós: a indefinição "santidade" e paganismo, entre masculino e feminino, entre verdade e mentira, entre amor e desrespeito. Santinho caminha nesse limiar incômodo: suas explosões vêm repentinamente e pelos motivos mais triviais, pulando para o insano quando menos se espera. Como nós, muitas vezes.

04/07/2009

O "Eu estou aqui" universal de A Cor Púrpura


É difícil se manter estagnado diante das intempéries que Miss Celie sofre ao longo do longa de Spielberg: A Cor Púrpura é um drama universal. Sentimos na pele esse sentimento de rejeição do mundo, o precisar enfrentar os bombardeios de pessoas que não nos amam. Os negros e as mulheres padeceram da falta de respeito por muito tempo na História.

Aprenderam, sim, a gritar por seus direitos e dizer: "Eu estou aqui". E, sim parece muito difícil gritar por si mesmo, quando todos o outro parece ser tão forte e tão convicto, mas o primeiro passo deve surgir. Ninguém pode lhe negar esse direito. Por mais que queiram lhe negar o direito de dizer e/ou fazer algo por você mesmo, nada lhe pode impedir essa auto-afirmação. Muitas vezes o que parece ser a maior força, esconde a maior fraqueza. Albert oprime Celie por querer se enganar, pra que ela não se sinta importante e o abandone. Quando ela finalmente se liberta de si mesma e dele, vemos sua beleza finalmente explodir, enquanto que ele permanece na sua insignificância. Sem os invencionismos estéticos típicos dos filmes atuais, Spielberg se mostra um excelente narrador, ainda que investa em um grane maniqueísmo. Mesmo com 2h30, o longa passa rapidamente diante dos olhos do espectador, tamanho o envolvimento que o diretor permite com sua protagonista. Whoopi Goldberg, Oprah Winfrey, Margaret Avery e Akosua Busia se revelam como verdadeiras donas de suas personagens, enfretando com um misto de fúria e sensibilidade as intempéries de suas jornadas.

Traçando um paraleto com a obra teatral Cuida Bem de Mim e os longas O Piano, Meu pé esquerdo, Quanto vale ou é por quilo?, Madame Satã, O Senhor dos Anéis, Matrix e tantos outros, todos os seus heróis gritam desesperadamente, "Eu estou aqui!". Assim como Spielberg procurou ser visto: distante dos blockbusters, um diretor de respeito. E conseguiu.


Já havia visto o longa há alguns anos, mas, revendo-o, pude ter uma nova experiência como espectador: mais maduro e mais dono de meus caminhos, algo que, com certeza, foi contribuição de Miss Celie.