10/03/2012

Aprendendo a domesticar-se em Dimanche



Crescer em sociedade nos exige diversas coisas - capacidade de falar e ouvir, aprender etc -, mas provavelmente a maior habilidade que precisamos conviver é a de domesticar o nosso id. Abdicar de determinados desejos nos torna mais afáveis para o outro, claro, já que abrimos espaço para que esse outro entre e se estabeleça. Mas essa renúncia pode chegar num ponto em que deixemos de nos importar com qualquer coisa que nos dê prazer genuíno e nos limitamos a vidas miúdas, que nos conduzem ao mesmo lugar todos os dias.

Assistindo Dimanche (idem, 2011, Patrick Doyon), vejo linhas infantis e ingênuas em contraste com as cores mortas e penso: "Será que uma criança desenharia desse jeito? Jamais! Onde estão as cores da alegria desse rapazote?" Mas é justamente sobre isso que Doyon quer nos comentar: a melancolia de uma infância que, aos poucos, aprende a ignorar sua imaginação e seus sonhos mais íntimos em favor daquilo que é mais prático ou "real". O ritmo lento que o diretor imprime sobre sua narrativa ajuda a dar dimensão a essa relação de tempo esticado, assim como as desproporções entre o trem gigantesco que atravessa a pequenina cidade sem saber o que existe pela frente tornam concreta a sensação de "nanoexistência" daquelas pessoinhas.

Um curta agradável e que faz pensar. O que acham?