07/05/2011

Uma Manhã Gloriosa e o prazer da irresponsabilidade


Falando de forma pessoal, quando acompanhei a jornada de Becky Fuller para conseguir fazer com que seu programa matinal de jornalismo e entretenimento fosse um sucesso na programação de uma grande emissora, não era possível deixar de me identificar com as situações dispostas na tela: a sensação de estar sempre correndo atrás do prejuízo, a descrença das pessoas no seu trabalho, além dos egos extremamente inflados de pessoas que parecem não pisar no chão, dentre outras situações. Ser produtor requer desvencilhar-se de uma individualidade para buscar o espectador mais genérico possível, deixar de se agradar para oferecer um produto que agrade milhões de pessoas, assim como fazer com que uma equipe, geralmente pequena, dê conta de uma grande quantidade de trabalho.

Saindo do plano pessoal e seguindo para a crítica propriamente dita, por mais que pretenda ser um retrato superficial dentre várias histórias de superação profissional diante de astros / chefes / coordenadores egocêntricos que o cinema já concebeu, Uma Manhã Gloriosa (Morning Glory, 2010, Roger Mitchell) ganha simpatia por um motivo: Rachel McAdams se torna extremamente cativante ao longo da narrativa, pois tem simpatia e talento para construir uma personagem que, por mais que caia na caricatura em alguns momentos, consegue se manter como a mais tridimensional que se apresenta no filme.

Com um roteiro que promete mais do que cumpre, Mitchell realiza um filme dinâmico que oferece uma energia forte para uma Diane Keaton diferente das senhoras simpáticas que nos acostumamos a ver, logo em sua primeira cena, para depois, relegá-la a um segundo plano. No entanto, ele oferece maior espaço para que a interpretação de um mal-humor monocórdico e despropositado de Harrison Ford ganhe contornos mais humanos perto do final do filme. Alguns instantes que parecem render algo diferente – como a briga dos dois apresentadores transmitida ao vivo -, mas parecem subaproveitados ou subestimados para seguir com outras situações que demandam maior espaço na narrativa. No entanto, por mais que seja essencial para este tipo de filme, seria muito pouco reduzir os esforços de Mitchell ao trabalho com o elenco, pois ele consegue criar um clima agradável através de sua fotografia singela, uma trilha sonora alegre e pop, além de um montagem quase invisível que privilegia o desenvolvimento da narrativa.

Por mais que não tenha a beleza e a humanidade de Um Lugar Chamado Notting Hill, Mitchell faz um filme previsível que versa sobre a possibilidade de ver a si mesmo, o trabalho e a própria arte um pouco menos a sério, com um pouco mais de prazer, desprendimento. Ser um pouco irresponsável requer justamente o contrário do que estamos acostumados: a individualidade, o querer agradar mais a si mesmo do que se deixar levar pelos pensamentos e cobranças alheios.