26/04/2011

Poesia e a (des)criação da beleza


Hoje, postei no Cine Lupinha.

Filme de Hoje: Poesia (Shi, 2011, Chang-dong Lee)

21/04/2011

Pânico 4 e o cinema como um evento


Desde que apresentou o aparente final da trilogia Pânico com o terceiro filme da série, Wes Craven parecia colocar a primeira pá de cal sobre o estilo “filme de terror metalingüístico” que sacramentou durante os anos 90. Se, em 2000, Pânico 3 parecia francamente desgastado diante da revolução do terror com O Sexto Sentido e A Bruxa de Blair em 1999, o quarto filme da cinessérie - Pânico 4 (Scream 4, 2011, Wes Craven) - funciona como um suspiro de alívio em meio à “responsabilidade” que o fazer cinema “original” terminou se tornando.

Retornando à cidade natal anos depois dos massacres registrados no último longa, Sidney Prescott está lançando um livro que não somente conta a história pela qual passou, mas que também tem servido de inspiração para outras pessoas superarem dramas semelhantes (?), se é que existe essa possibilidade. Enquanto isso, Dewey ainda permanece como o xerife da cidade onde não acontece nada de extravagante para sua esposa, Gale Weathers, vasculhar com seu instinto jornalístico – todos os três meio perdidos na profusão de astros em participações especiais, como Kristen Bell, Hayden Panettiere, Rory Culkin, Anna Paquin e Marley Shelton. Mas todos os furos no enredo e as fracas interpretações pouco importam quando, na realidade, reside na experiência cinematográfica de retornar à época em que se via a renovação deste gênero pelas mãos de Kevin Williamson – roteirista deste e de outros filmes que iam na mesma esteira, como Eu sei o que vocês fizeram no verão passado e Prova Final, assim como do seriado adolescente Dawson’s Creek - a sua maior qualidade.

Se, desde seu prólogo, o filme aposta na esperteza ao se deixar levar pela metalinguagem deslavada, referenciando não somente os filmes de terror, mas também as mudanças que a trilogia original proporcionou, o realiza na intenção de restabelecer as regras de um jogo conhecido pelos seus jogadores, mas, desta vez, investindo mais ainda na diversão do processo do que o resultado. Mesmo que os clichês de uma época se avolumem a cada fotograma e possamos, ao longo da narrativa, perceber o quanto amadurecemos e nos sofisticamos nessa última década, certamente a sensação mais agradável durante uma sessão do longa reside em perceber que seus realizadores não são somente fãs dos filmes de terror adolescentes, mas fãs da própria trilogia Pânico.

Certamente, eles pensaram na experiência de estar em um multiplex cheio de ex-adolescentes nos seus vinte e poucos anos, gritando, rindo e se emocionando com suas lembranças, uma geração que, enquanto rememora o quanto se divertia anos atrás, também percebe como tem se levado a sério demais em alguns momentos.


17/04/2011

O Panaca e o ser alguém


Hoje é dia de Cine Lupinha.

Filme de Hoje: O Panaca (The Jerk, 1979, Carl Reiner)



09/04/2011

The Blues Brothers e o submundo musical


Baseado em uma banda de r&b criada como esquete cômico-musical do programa norte-americano Saturday Night Live, John Landis realiza em Os Irmãos Cara-de-Pau (The Blues Brothers, 1980, John Landis) um musical disfarçado de comédia policial – ou vice-versa – que prima pelo absurdo das situações em que o roteiro joga seus protagonistas.

Logo que sai da cadeia, depois de três anos, Jake Blues é levado pelo seu irmão Elwood para visitar a freira Mary, que lhes conta a respeito das dificuldades financeiras que o orfanato que administra tem enfrentado – ao mesmo tempo em que os pune com uma palmatória por terem blasfemado e falado palavrões. Mesmo que não tenham se convencido pelas palavras de repreensão dela, a convite de um de seus amigos, vão a um culto em uma igreja evangélica e Jake – em um número que mistura revelação e animação - recebe uma luz a respeito do que precisam fazer para salvar o orfanato da freira: retornar com a banda que havia se desfeito pouco depois de Jake ter ido para a prisão.

A partir desse mote, Landis compõe uma série de esquetes cômico-musicais estrelados por gênios da música black – Aretha Franklin como uma dona de restaurante desbocada, James Brown como o pastor de uma igreja alucinada, Ray Charles como um dono de loja de instrumentos musicais e os integrantes da própria banda The Blues Brothers – e com personagens emergentes de um universo figurativo vindo da própria mídia. O roteiro despretensioso e insano de Landis e Dan Aykroid conquista instantaneamente o público com a caracterização de personagens surreais – como a misteriosa e violenta mulher interpretada por Carrie Fisher que, em sua primeira cena, empunha uma bazuca engatilhada para os irmãos; ou os membros de um partido político nazista e os vingativos cantores de música country – em situações inóspitas.

Se durante muito tempo, o gênero musical acompanhou personagens do show business afeitas ao jazz inocente, Landis volta sua câmera para o submundo do blues e do soul, trazendo personas deslocadas do universo real, mas pertencentes ao um mundo musical subalterno que ganha visibilidade aprendendo a rir de si mesma.


05/04/2011

Meu Primo Vinny - Entre o confiar e o subestimar


Na convivência em sociedade, o ser humano atravessa situações que o levam a enfrentar e confiar num desconhecido que lhe ensina muitas vezes a deixar de controlar o seu próprio destino e se entregar com maior facilidade.

No longa Meu Primo Vinny (My Cousin Vinny, 1992, Jonathan Lynn), o espectador perpassa por estes tipos de sensações ao longo do filme: de início, subestima-o, mas, ao longo da projeção, permite-se conquistar pela sua simplicidade, ignorando a pieguice e envelhecimento de alguns aspectos que não diminuem o charme da sessão. Iniciando a história com a viagem e a prisão de Bill e Stan, dois jovens recém saídos da faculdade, por engano dentro do estado do Alabama, a narrativa logo oferece espaço para o desfile de Vinny, um advogado recém-formado, e Lisa, sua noiva especialista em carros, dois nova-iorquinos completamente diferentes dos padrões conservadores de um estado que cria suas próprias leis.

Utilizando de uma linguagem simples e convencional, Lynn prefere favorecer a dinâmica entre seus personagens a fim de obter os efeitos cômicos das performances inspiradas de Joe Pesci e Marisa Tomei. Enquanto Pesci praticamente repete a persona irritada e convencida que o público se acostumou a ver em seus filmes; Tomei praticamente toma para si o filme na parte final, quando, depois de nos cativar com uma mulher extravagante e companheira, consegue nos arrebatar ao trazer verossimilhança para monólogos complexos em quantidade e qualidade de informações. Mesmo contando com algumas cenas formulaicas e outras desnecessárias para o desenvolvimento da narrativa, são momentos como um abraço de agradecimento de Bill em Vinny após o julgamento e o retorno do advogado e sua noiva para casa que fazem deste longa um bom passatempo e uma sessão saudosista para aqueles que aprenderam a amar – e não subestimar – esses filmes descerebrados.

Se fosse feito hoje, talvez as peripécias do trapaceiro Vinny fossem solenemente ignoradas pelo público afeito a um humor diferenciado, mas o filme de Lynn reserva ainda um certo carisma atemporal por se apoiar em uma fórmula simples e funcional, mas, antes de tudo, tão despretensiosa como as melhores comédias do final dos anos 80 e início dos 90.