30/09/2011

Premonição 2 e os dejavus das franquias

Hoje, postando a pedido do Cine Lupinha.

Filme de Hoje: Premonição 2 (Final Destination 2, 2003, David R. Ellis)


Trecho: "Bastou dar um Ctrl+L no roteiro do primeiro filme e substituir o nome dos personagens e temos uma receita para fazer um filme onde só importa as mortes criativas e a espetacular explosão que inicia o filme."

10/09/2011

A tragédia da consciência: Planeta dos Macacos – A Origem



“Minha natureza simiesca passou a afastar-se de mim a olhos vistos, tão depressa que meu primeiro treinador é que quase se transformou num macaco” (Franz Kafka)

Em seu famoso conto Comunicação a uma academia, Franz Kafka utiliza-se da história de um macaco que relata aos estudiosos presentes em sua palestra o processo de hominização que terminou atravessando desde que foi capturado pelo seres humanos. Com certo tom de melancolia, o macaco nos faz perceber quão nociva pode ser a consciência a respeito de nossa condição humana predadora e desnudante.

No longa O Planeta dos Macacos – A Origem (Rise of the Planet of the Apes, 2011, Rupert Wyatt), vemos um pouco dessa discussão da relação homem-primata com o seguinte enredo: Will Rodman procura financiamento para sua pesquisa da cura do Mal de Alzheimer, que pode ser viabilizada através de um remédio testado em chimpanzés. Estes passam a desenvolver uma inteligência fora do convencional depois que passam por estes testes com protótipos do medicamento, sendo um deles César, chimpanzé adotado por Will depois da morte da mãe do símio no laboratório. Com o tempo, o primata começa a tomar consciência de sua condição e a se inconformar com o tratamento que os humanos infringem sobre ele e os outros macacos, levando-o à revolução.

Com um roteiro que destrincha sem pressa a ascensão de César, Wyatt oferece espaço para destacar o trabalho de Andy Serkis como o símio, enfatizando a tragédia de se ter a consciência das misérias que o cercam. Enquanto o excelente trabalho de Serkis rouba a cena, James Franco equilibra a dose com a concepção de um cientista obstinado pelo seu trabalho, mas que o realiza pela paixão de ver a solução de um problema próximo a si – no caso, a doença degenerativa que acomete seu pai, interpretado por um John Lithgow correto. Além deles, observa-se uma Freida Pinto ser subutilizada como par romântico e “voz da consciência” de Will em certos momentos e David Oyelowo relegado ao estereótipo do chefe interessado somente no dinheiro da empresa, um dos clichês mais batidos da história. 

Entretanto, ao observar os elementos técnicos usados por Wyatt no longa, ressalta-se os efeitos especiais que transformaram os movimentos de Serkis no símio e uma montagem fluida que investe na identificação do público com o protagonista e, em sua parte final, nos cortes abruptos típicos do gênero de ação. Patrick Doyle compõe uma trilha sonora adequada, mas não memorável e Andrew Lesnie investe em uma fotografia que realça os tons frios e acinzentados típicos da ficção científica, deixando as cores para os momentos mais emocionais do longa. Em suma, o longa de Wyatt oferece novo fôlego para a franquia dos macacos que dominam a Terra, pois investe no elemento fundamental de qualquer história: seus personagens.

Focando na inevitabilidade das consequências que este “abrir de olhos” pode proporcionar, Wyatt aposta na velha fórmula do “ciência – consciência = perigo” para oferecer um pouco mais - mas não muito - do que entretenimento escapista, mas uma tentativa de trazer certa reflexão sobre as virtudes e os infortúnios do conhecimento.

Os Smurfs e a Cultura do Remix




Dentro da chamada Cultura do Remix, percebe-se que a maioria dos produtos audiovisuais concebidos para cinema são baseados em materiais criados originalmente para outras mídias – vide Piratas do Caribe, Nine ou os recentes Thor e Lanterna Verde, dentre outros. Como fruto dessa cultura, vemos o surgimento do longa do desenho animado que veio dos quadrinhos dos anos 50 Os Smurfs, que fez bastante sucesso no Brasil na década de 80, que, neste ano, se transformou em filme.

Nos primeiros minutos de Os Smurfs (The Smurfs, 2011, Raja Gosnell), percebe-se o quanto os longas criados para o público infantil evoluíram nas últimas décadas, visto que a sofisticação e a criatividade presente em filmes como Os Incríveis, Wall-E, A Viagem de Chihiro,  Shrek e outros simplesmente desaparece com o enredo mais do que ultrapassado deste longa meio preguiçoso e antiquado. A trama reside no seguinte: os Smurfs, ao fugir de mais uma investida de Gargamel – interpretado por um Hank Azaria querendo pagar as contas – e Azrael, terminam por parar na cidade grande – no caso, a óbvia Nova York -, onde passam poucas e boas até que consigam voltar para casa.

O clima despreocupado e simplório toma conta de todo o longa, desde o roteiro às interpretações, salvando-se somente a técnica de animação, que mostra a que veio, ao adequar os pequenos seres ao universo dos humanos com destreza. Aos adultos, resta somente perceber algumas brincadeiras visuais com o Blue Man Group, Blu-Ray Disc ou Bluetooth, o que não é grande coisa para quem cresceu com esses seres azuis e esperava bem mais do filme.

Professora Sem Classe e o Ser/Estar Incorreto



Durante nossa infância, procuramos modelos em que nos espelhar a fim de sermos adultos saudáveis e exemplares uns para os outros. Se, durante muito tempo, nossa sociedade relegou à religião a concepção de mitos que funcionariam como exemplos de dedicação, subserviência e amabilidade, como Jesus Cristo, Buda ou Maomé, a contemporaneidade transfere esse status de ‘ícones’ para pessoas ditas ‘públicas’: artistas, políticos e, em menor escala, os educadores – se considerarmos a conservadora sociedade norte-americana -, o que nos conduz ao longa a ser analisado.

Professora Sem Classe (Bad Teacher, 2011, Jake Kasdan) versa sobre Elizabeth Halsey, uma professora de ensino fundamental que, numa das primeiras cenas do longa, pede demissão para ser sustentada pelo namorado rico, com quem está prestes a se casar. Mas, tempos depois, uma travessura do destino tira-lhe a oportunidade de tomar proveito das riquezas de seu fiancée. Ela termina, então, precisando voltar a lecionar para conseguir o dinheiro necessário para fazer o implante de silicone que lhe proporcionará seu próximo marido rico. Durante sue empreitada, passa os dias embriagada, fazendo seus alunos assistirem a filmes ao invés de dar aula, dá em cima de Scott, o bondoso professor de família rica, e infernizando a vida de sua serelepe rival Amy.

Trabalhando com um amor menos inocente do que se esperaria de um filme estrelado Cameron Diaz, Kasdan coloca a sala de aula em segundo plano para desenvolver a personalidade de sua protagonista independente do espaço onde esteja. Dessa forma, torna-a mais viva para o espectador, ainda que sua previsível redenção surja de maneira óbvia e apressada, mas nunca melodramática. Investindo num elenco descolado, Diaz se diverte com os palavrões e o cinismo de sua Elizabeth, enquanto que Jason Segel compõe o professor que se engraça por ela, mas que não a endeusa e Justin Timberlake desaparece um pouco com sua embalagem de cantor pop para tentar compor a timidez e a excentricidade de seu Scott. Com um discurso semelhante ao imensamente superior Papai Noel às Avessas, este longa não passa de um passatempo mais sacana do que as comédias açucaradas convencionais, servindo talvez como uma resposta às comédias ‘masculinas’- vide Se Beber, Não Case - que tem surgido nos últimos anos.

07/09/2011

Pacific - Sorria, você está se filmando.

Postando no Cine Lupinha.

Filme de Hoje: Pacific (idem, 2011, Marcelo Pedroso)



Trecho: "Nesse reality show concebido e registrado por nós mesmos, retornamos ao cinema dos Lumière ao encontrar diversas narrativas conduzidas por personagens anônimos e, por vezes, nada memoráveis, tornando esta experiência quase um dejá vu de nossa própria existência."



Melancolia - Pós-Trans-Oni-Anti-Ciência?

Postando hoje no Cine Lupinha.


Filme de Hoje: Melancolia (Melancholia, 2011, Lars Von Trier)



Trecho: "Rico em simbolismos, Von Trier incomoda e extasia seu público ao fazê-lo experienciar um Apocalipse ainda mais tenebroso do que aquele revelado nas profecias do apóstolo: dentro de nós mesmos, ocultamos um intenso esvaziamento que será suprido somente quando retornarmos para dentro da terra que nos expeliu para uma existência errante e distópica"