18/05/2010

Educação e o anti-ortodoxo



Na tentativa de planejar nosso destino, diversas situações podem nos distanciar de alcançar um objetivo, mas somente uma delas predomina diante de todas as outras: nossa própria vontade.

Em Educação, de Lone Scherfig, conta-se a história de Jenny, uma típica londrina dos anos 60 no final da adolescência e dos estudos que se prepara para entrar na universidade, mas, em seu caminho encontra David, um rapaz nos auge dos seus 30 anos, que lhe apresenta um mundo de jazz, festas e uma cultura da rua, não dos livros. Contudo, ao longo do seu envolvimento, Jenny começa a perceber que o rapaz e seus amigos não são exatamente quem aparentam, onde a responsabilidade e a ética não são consideradas palavras de ordem.


No roteiro adaptado por Nick Hornby a partir das memórias de Lynn Harber, os diálogos tornam-se seu maior destaque, por carregarem uma sinceridade e humanidade que conseguem compor um painel ao mesmo tempo clássico e moderno, oferecendo um frescor na maneira com as situações que apresenta. Se enredo e situações da narrativa não apresentam novidades, é a interpretação dos atores que consegue lhes conferir esse frescor e vitalidade, com destaque para Carey Mullingan e Peter Saarsgard, que, com sua química pulsante e inebriante, extraem do espectador os sentimentos mais dúbios, da candura ao desprezo. Jenny equilibra a responsabilidade e a transgressão em uma personalidade terna e determinada, mas frustrada em certo momento do longa, algo capturado com excelência pela jovem intérprete, que, dessa forma, se torna a alma da obra.


Sua diretora consegue orquestrar essa dinâmica do elenco com habilidade, levando seu público a se identificar imediatamente com a trajetória de Jenny rumo à vida adulta, de maneira imperfeita, contudo, mais experiente.

16/05/2010

Mary & Max e a construção de laços inóspitos


Ao longo de nossa existência, conhecemos diversos tipos de pessoas - divertidas, sérias, convencionais, excêntricas, ricas, pobres, inteligentes, estúpidas, egocêntricas, altruístas etc. -, mas todas com algo em comum: humanas. Por mais que desejemos ocultar nossas fraquezas e enfatizar nossas disparidades, não se pode esquecer que nossa essência nos aproxima e pode oferecer as mais variadas possibilidades de relacionamento.

Em Mary & Max, o cineasta responsável pelo curta-metragem Harvie Krumpet – Adam Elliot – baseia-se em uma história real para construir seu enredo: Mary é uma menina de oito anos que mora com seus pais nos Estados Unidos e, depois de ver o correio sentimental de uma revista, começa a se corresponder com Max, um australiano na decadência dos seus quarenta e quatro anos. Ambos passam anos trocando cartas, compartilhando histórias, sentimentos e formam um laço que se firma e se aprofunda com o passar do tempo.

Enquanto Mary possui em Max um porto-seguro para enfrentar as mudanças de uma jornada que ainda tem muito a percorrer, o amigo compartilha suas fobias e sensações com a menina, mesmo com a distância espaço-temporal que os separa. Elliot se utiliza de dois tons cromáticos para construir os universos díspares de ambos: enquanto Mary parece uma flor em meio ao mundo envelhecido em que reside, Max observa o mundo com uma saturação quase nula, onde reina o preto e branco dos relacionamentos interpessoais secos dos quais deseja se precaver.

O cineasta compõe um painel melancólico e pueril sobre a inocência de uma amizade sem segundas intenções e interesses, evoluindo um estilo já presente no supracitado curta: a narração de Barry Humphries explora a humanidade de um cotidiano universal e humano, extraindo comicidade e pateticidade de diversas situações que poderiam soar banais, mas que são exaltadas pelo carinho e delicadeza com que são tratadas. Uma pérola da animação adulta.