16/05/2010

Mary & Max e a construção de laços inóspitos


Ao longo de nossa existência, conhecemos diversos tipos de pessoas - divertidas, sérias, convencionais, excêntricas, ricas, pobres, inteligentes, estúpidas, egocêntricas, altruístas etc. -, mas todas com algo em comum: humanas. Por mais que desejemos ocultar nossas fraquezas e enfatizar nossas disparidades, não se pode esquecer que nossa essência nos aproxima e pode oferecer as mais variadas possibilidades de relacionamento.

Em Mary & Max, o cineasta responsável pelo curta-metragem Harvie Krumpet – Adam Elliot – baseia-se em uma história real para construir seu enredo: Mary é uma menina de oito anos que mora com seus pais nos Estados Unidos e, depois de ver o correio sentimental de uma revista, começa a se corresponder com Max, um australiano na decadência dos seus quarenta e quatro anos. Ambos passam anos trocando cartas, compartilhando histórias, sentimentos e formam um laço que se firma e se aprofunda com o passar do tempo.

Enquanto Mary possui em Max um porto-seguro para enfrentar as mudanças de uma jornada que ainda tem muito a percorrer, o amigo compartilha suas fobias e sensações com a menina, mesmo com a distância espaço-temporal que os separa. Elliot se utiliza de dois tons cromáticos para construir os universos díspares de ambos: enquanto Mary parece uma flor em meio ao mundo envelhecido em que reside, Max observa o mundo com uma saturação quase nula, onde reina o preto e branco dos relacionamentos interpessoais secos dos quais deseja se precaver.

O cineasta compõe um painel melancólico e pueril sobre a inocência de uma amizade sem segundas intenções e interesses, evoluindo um estilo já presente no supracitado curta: a narração de Barry Humphries explora a humanidade de um cotidiano universal e humano, extraindo comicidade e pateticidade de diversas situações que poderiam soar banais, mas que são exaltadas pelo carinho e delicadeza com que são tratadas. Uma pérola da animação adulta.

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