06/06/2013

A Parte dos Anjos e a superestimada honestidade


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Ken Loach é conhecido do público por abordar questões referentes à classe operária em seus filmes, o que não acontece de modo diferente em A Parte dos Anjos (The Angel's Share, 2012), em que um grupo de delinquentes que vivem em Londres precisam lidar com a falta de dinheiro e planejam um golpe para resolver estes problemas financeiros.

Robbie acaba de ser pai ao mesmo tempo em que precisa participar do trabalho comunitário que funciona como pena pelo fato dele ter batido até a quase morte um desconhecido, sem motivo aparente. Robbie vive como um gato escaldado pela vida, sempre pronto para revidar o golpe alheio, enquanto que sua namorada tenta acalmá-lo sempre que necessário. Essa sinopse parece trazer uma narrativa triste e depressiva, mas Loach reveste de bom humor quando transforma sua crítica social em um heist film: (SPOILER ALERT) para conseguir dar um vida melhor à sua nova família, Robbie planeja com seus colegas ex-detentos roubar um uísque valiosíssimo que será levado a leilão.

Interessante observar o olhar de Loach em criticar o capitalismo a partir de um mote aparentemente simples, pois, ao roubar o uísque, Robbie zomba dos poderosos que nem desconfiam do roubo realizado, já que não possuem os mesmos talentos que ele em degustar e reconhecer uísques. Além disso, parece reconhecer que o verdadeiro mérito de possuir aquele objeto de valor mais simbólico do que financeiro está naqueles que, de fato, apreciarão aquele objeto ao invés daqueles que desejam possuí-lo como mais uma forma de esbanjar.

Relacionando isto a uma questão ampla - considerando as distinções entre Brasil e Inglaterra -, percebe-se como o "jeitinho brasileiro" já nos deixou, de certa forma, anestesiados para as culpas pelas desonestidades nossas de cada dia, já que o modo de vida e as resoluções expostas por Loach em seu longa podem se mostrar deslocadas da imagem elitizada e regrada que os estereótipos mantiveram no nosso inconsciente. Enquanto isso, uma trama semelhante sendo desenvolvida no Brasil não apresentaria grandes surpresas para o público brasileiro, acostumado à driblar a honestidade para conseguir sobreviver com as poucas condições de vida que possui.

Um comentário:

  1. Olá Márcio,

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    Marcos
    www.cinematotal.com
    marcos@cinematotal.com

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