13/06/2009

O Grande Truque & a Arte: Sacrifício ou Autodestruição?


Ganância + Poder = Masculinidade. Durante muito tempo, essa operação funcionou para trazer ao sistema patriarcal a predominância na sociedade, relegando aos outros a submissão diante dessa desigualdade. Na sociedade que conhecemos hoje, o homem consegue perceber a importância de outras camadas da sociedade, mas a competição ainda faz parte do seu instinto natural.

No longa de Christopher Nolan, uma amizade dá lugar à rivalidade quando a arte do ilusionismo está em jogo e os segredos de sua perfeição se tornam mais importantes que os processos de sua criação. Versando sobre o comércio da arte perpetuado por esse instinto competitivo masculino, O Grande Truque passa de uma premissa simples para um estudo audacioso sobre ganância e vaidade através dos habilidosos roteiro e direção de Nolan - direcionando o espectador com seus complexos flashbacks dentro de flashbacks e suas idas e vindas do tempo, assim como evitando um maniqueísmo barato que aprofunda as personalidades de seus protagonistas e faz com que questionemos as atitudes de ambos.

É possível que deixemos nossas concorrências diárias nos levem a cometer atos muitas vezes tão questionáveis? Para os dois mágicos, o ilusionismo provavelmente já havia perdido o seu encanto cotidiano da criação, mas havia virado um jogo onde a destruição do outro se tornara o ideal, o que terminou a destruir a vida de ambos. Num mundo que viu Van Gogh cortar sua orelha, Cacilda Becker morrer encenando Beckett, a dedicação e sacrifício que ambos faziam por sua Arte não encontra seu sentido no amor a ela, mas por sua obsessão em ser o melhor.