13/07/2009

Meu Tio e a busca pela perfeição


Ao ver o famigerado longa de Jacques Tati, Meu Tio, percebe-se um clima de nostalgia e um retorno pela infância e pela pureza, não somente das pessoas, mas de um cinema jovem, que ainda teria tanto a dizer. Com fortes referências ao cinema mudo, aos quadrinhos, Tati constrói um longa que mostra um tempo diferente do nosso, mas que se mostra ainda atual e inteligente nas suas críticas à sociedade. Dando início ao filme, encontram-se, nas ruas sujas da França, cachorros revirando latas de lixo. Um deles chama a atenção: está vestido! Logo depois, vemos que volta para a casa dos donos: cheia de bugigangas eletrônicas e pouco práticas, a residência pretende cercar seus moradores com o máximo que pode oferecer.

A partir desse ponto, vemos a relação que Sr Hulot e seu sobrinho estabelecem entre si - amizade e companheirismo - e com a casa - rejeição e incômodo. Mas por quê? As facilidades do mundo moderno não são uma evolução? Depende do modo como o utilizamos. As pais do menino se apóiam neles e fazem destes a razão de suas vidas, relegando à própria família um lugar secundário. Por isso, o menino sente-se mais à vontade com Sr Hulot: um outsider ao seu modo. Ele não se encaixa nos padrões pragmáticos da sociedade, portanto, se torna um excluído. Ou seja, lixo, excesso.

O aspecto clean e hermético da casa ajusta as relações falsas e superficiais que as pessoas estabelecem naquele lugar, como os vizinhos e amigos da família, que, mesmo em meio a uma festa, não enxergam nada além de si mesmos. Tanto que não percebem as trapalhadas de Sr Hulot e o menino para lidar com algumas traquitanas da casa. É perceptível o cuidado com que Hulot compõe suas sequências: na maior parte das cenas, vê-se um amontoado de lixo que nunca é varrido, causando um incômodo - pelo menos, em mim - para que aquela sujeira fosse retirada. A partir dessa sensação, reflito: como aceito os outsiders da sociedade e não aceio essa sujeira, esse pequeno incômodo na tela?

Essa nossa busca pela perfeição é eterna e no move. A maturidade, no entanto, se encontra em perceber a evolução nos processos e não simplesmente os resultados. Viver na utopia de habitar em um ambiente distante das imperfeições do mundo externo só nos ilude e nos isola do conato com o outro. Como atesta o final do longa, é inevitável que as coisas mudem, mas evoluir está no benefício que estas mudanças trazem para si e para as outras pessoas. Seja na relação que a criança finalmente estabelece com seu pai. Seja na mudança na vida de Sr Hulot. Aquilo que não muda é por que não existe mais.

Obs.: Essa relação com lixo, a busca pela perfeição e pela segurança, até a forma como o herói da história é construída, além da estética herdada do cinema mudo, lembra bastante Wall-E, longa de animação da Pixar.

2 comentários:

  1. Esteticamente impressionante, piscamos menos quando vemos o filme de Jacques Tati.

    ResponderExcluir
  2. Olhar se torna uma tarefa prazerosa e não simplesmente um hábito.

    ResponderExcluir