02/10/2011

O humor do/com/para o Outro - Alô, Alô Terezinha



O que é ser engraçado? De onde vem a sensação o que me conduz ao riso? Por que sinto a necessidade de rir de determinadas pessoas ou situações? De onde vem meu senso de humor? Onde preciso começar e terminar meus momentos de seriedade e irreverência? Ao transferir esses questionamentos para a forma como observamos o outro, pensamos em uma questão essencial para embarcar em uma sessão do longa a ser resenhado: o que acho engraçado no outro?

Alô, Alô Terezinha (idem, 2008, Nelson Honieff) conduz o espectador pelos diversos personagens que passaram pelos programas Discoteca / Buzina / Cassino do Chacrinha: as sensuais e alegres chacretes, os elogiados ou ‘buzinados’ caloruos, além dos cantores que ascenderam graças ao apelo popular e carnavalesco do comunicador que fez história na televisão brasileira. Ou seja, são pessoas famosas como Rita Cadillac, Biafra, Beth Carvalho e Alcione, ex-famosos como Loira Sinistra e Índia Poti, mas também os anônimos Manoel de Jesus e Abacaxi oferecendo depoimentos sensíveis e, às vezes, esculachados não somente sobre Chacrinha, mas também sobre as situações que viveram durante o tempo em que participaram de seu programa e como vivem nos dias de hoje.

Desde as cenas iniciais, percebemos que Hoineff constrói um documentário pouco convencional, ao expor seus personagens ao ridículo constantemente, explorando seus vexames e contradições diante das câmeras, tornando-a praticamente sua melhor testemunha. Em sua montagem mordaz e cruel, ele utiliza cenas que deram errado – como uma Elba Ramalho que esquece a letra da música que cantava ou um Biafra atingido por uma asa delta -, personagens em situações constrangedoras – como o ex-calouro Abacaxi cantando ensandecido no meio da rua ou uma ex-chacrete nua posando em um chafariz – e depoimentos contraditórios – como as diversas falas sobre os affairs que o comunicador mantinha com as dançarinas ou, principalmente, seu “Rosebud” particular “Quem é Terezinha?” – para desconstruir com todas as bases ‘éticas’ dos documentários convencionais.

Ao fazê-lo, Hoineff utiliza-se de um humor escrachado e despretendido que atende os pressupostos que regiam o próprio estilo de Chacrinha: o caos, o imprevisível, a inversão de expectativas. Nessa perspectiva, ele trata a vida como um grande programa de auditório carnavalesco, ou seja, uma grande festa onde vale somente se divertir com o grotesco, o excêntrico que o Outro representa. Se Hoineff foi antiético, preconceituoso e desrespeitoso, digo que ‘sim, um pouco’, entretanto, estaria mentindo se lhes dissesse que ele não me fez rir com as incoerências e pateticidades de suas personagens. Assim somos nós: rimos daquilo que reconhecemos tão ridículo em nós mesmos.

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