13/10/2011

Confiar e a Pedagogia Cultural



A Educação passou por diversos estágios e estudos ao longo de seu desenvolvimento teórico e prático, desde as experiências do condicionamento “estímulo-resposta” de Skinner, passando pelo socioconstrutivismo de Piaget ou Vygotsky, chegando à educação através das novas tecnologias de informação e comunicação.
            
Dentro desta última vertente, podemos encontra um ramo recente de estudos que mescla comunicação e educação, mas também os vieses tradicionalistas e progressistas de “ensinar e aprender”, chamado Pedagogia Cultural. Este campo de estudos pesquisa a respeito das possibilidades educativas das mídias de massa – leia-se televisão, rádio, propaganda, cinema etc. -, concebendo-as como veiculadoras de ideologias capazes de influenciar fortemente comportamentos, sentimentos e opiniões de seus usuários. Mas que relações podemos estabelecer entre este campo de estudos e o filme a ser resenhado? É simples.
            
Confiar (Trust, 2011, David Schwimmer) versa sobre Annie, uma adolescente de 14 anos e de familiar nuclear tradicional, que mantém contato na internet com um jovem de 16 anos, Charlie, conversando sobre as alegrias e frustrações que enfrenta em sua jornada familiar e escolar diariamente. Com o tempo, o rapaz começa a revelar que mentiu sobre sua idade – possui mais de 30, na realidade –, mostrando-se um predador sexual online depois que ambos marcam um encontro ao vivo. A partir deste fato, descortinam-se as misérias de um pai em busca de vingança e uma mãe que se culpa diante do esfacelamento de sua perfeita família.
            
Revelar estes detalhes do enredo não se mostra um spoiler muito disparatado, já que a construção previsível e a direção quase didática de Schwimmer não permitem vôos mais distantes do que a mensagem que desde o início se explicita no longa. De forma semelhante a A Vida de David Gale (2003), em que Alan Parker se valia do enredo para defender um posicionamento anti-pena de morte, Schwimmer parece se utilizar de um roteiro, escrito por Andy Bellin e Robert Festinger, que parece parte de uma campanha contra pedofilia na internet, algo como as novelas da Globo têm feito com maior freqüências nos últimos anos. O trio de protagonistas – Clive Owen, Catherine Keener e Liana Liberato – possui talento para tentar driblar estas armadilhas, mas parece tudo tão esquemático que se torna um trabalho hercúleo tentar oferecer um retrato menos óbvio destas personagens deste filme-denúncia.
            
Com um simplismo didático que beira o maniqueísmo deslavado, este filme não consegue dar conta de todas as contradições que o seu tema pode proporcionar, funcionando, de fato, como um recurso para “ensinar” comportamentos para seus espectadores, principalmente, as adolescentes expostas diariamente aos “males” das redes sociais. Não procuro aqui desmerecer a educação ou seus pressupostos, mas discordo explicitamente do fato de se empregar suas estratégias de maneira fragilizada, procurando "isentar" os espectadores da possibilidade de pensar por si mesmos sobre a temática desenvolvida no longa ao oferecer um discurso "pensado e mastigado" para que eles possam simplesmente digerir e reproduzir ad infinitum.

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