18/07/2009

Duro de Matar 2 e a Sociedade do Espetáculo


Sim, também me surpreendi ao decidir escrever após a experiência de assistir Duro de Matar 2, aventura de ação do começo dos anos 90 orquestrada por Renny Harlin e protagonizada por um ascendente Bruce Willis. Mas, ao observar as referências do longa ao espetáculo perpetuado pelas imagens da mídia, não pude ignorar um paradigma da própria sociedade dos anos noventa.

Os anos 90 presenciaram mudanças significativas no âmbito midiático, que se perpetuam e se extrapolam constantemente nos idos do novo milênio: a representação através das imagens. Explico-me: desde os primórdios da Humanidade, o homem procurava, sim, criar imagens para representar, figurar aquilo que era e o que podia ver. Com o tempo, a sofisticação e a evolução das técnicas pictóricas terminou levando às diversas escolas de pintura, escultura, passando pela fotografia, chegando ao cinema e a televisão, caracterizando, assim, a explosão de um dos instrumentos de comunicação humana: a imagem.

Nessa nova sociedade em que vivemos, a imagem registra o "real" ou aquilo que acreditamos que o seja, torna-se um meio através do qual acreditamos nos fatos que vivenciamos. As imagens terminam ganhando mais expressão e espaço quando se encontram na mídia, quando os comunicadores estampam nos telejornais e revistas fotos, sons e textos contendo tais informações. Isso é o que nos leva ao longa: num momento em que as telecomunicações dominavam o meio militar e os centros tecnológicos, a população pouco conhecimento tinha sobre essas evoluções. John McClane representa essa sociedade pouco adepta das novas tecnologias, mas que precisa entrar em contato com ela para esclarecer os olhares obscuros sobre um possível atentado num aeroporto novaiorquino.

Num momento em que a Guerra do Golfo principiava uma batalha cuja presença da mídia interfere através do olhar imediato dos espectadores, tornando-se assim, uma "guerra na televisão", percebe-se o quanto essa presença transbordante das imagens influencia nosso cotidiano, nossa maneira de observar e receber a "realidade". Nesse bloco difuso de (in) definições, reina a Sociedade do Espetáculo - conhecida através do livro homônimo de Guy Debord-, em que se discute uma sociedade em que o "real" passa a ser legitimado pelo espetáculo, pelo que está registrado na mídia. Hoje, para que algo ou alguém possa ser considerado "existente", deve estar presente na rede de buscas Google, ter alguma imagem no MySpace, possuir um video no Youtube.

No longa, questionava-se o papel dessa mídia intrusiva, que ora auxilia o herói na sua empreitada ora atrapalha o desenrolar dos fatos. Imagine a criticidade do subtexto do filme num mundo globalizado e digitalizado como esse novo milênio, onde cada fato vulgar da vida de qualquer pessoa já é pensado para ir direto para a rede. Vivemos numa sociedade permeada pelas imagens, sim. Nesse instante, desumanizamo-nos para aderir a uma imagem, a um perfil imagético que, abstratamente, diz tudo o que é preciso saber sobre nossa personalidade.

A mídia de grande circulação pode ter sido a maior vilã dos anos 80 e 90 nos discursos contra essa sociedade do espetáculo, mas creio que, nesses novos tempos, encontramos essa "vilania" em nós memsos. Desejamos tanto ser aceitos por essa sociedade que nos submetemos a essa auto-representação através da mídia, ao invés de perceber a beleza e o poder de uma boa conversa tête-a-tête.

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