16/02/2011

III Festival do Júri Popular – Mostra Hors-Concours


Eletrodoméstica (Kleber Mendonça Filho, 2005)

Tratando da gradativa humanização dos objetos inanimados do nosso cotidiano e da nossa conseqüente desumanização diante da obsessão pela maquinaria, o curta, com certa dose de sutileza e bizarrice, mostra como os eletrodomésticos deixam de ser somente extensões do nosso corpo, mas influenciam diretamente em nossas escolhas e atitudes. Com uma edição fluida e um roteiro bem desenvolvido, o cinema ao mesmo tempo simples e simbólico de Mendonça Filho universaliza o dia-a-dia chinfrim e brega da dona de casa adicionando o excêntrico como algo banal e, de certo modo, compreensível.


Vida Maria (Márcio Ramos, 2006)

No imenso plano sequência de que se compõe o curta, percebe-se como a vida sertaneja caminha por um movimento perpétuo onde a paradoxal estase do lugar dita o tamanho e a trajetória dos sonhos e dos desejos de seus habitantes. Enquanto a letra e a identidade poderiam nos levar para outros lugares e realizações, as carências terminam por construir um muro tão grande diante de nossas casas que não conseguimos enxergar além da terra seca e dos animais famintos. Além desta, tantas outras Marias, mães e mulheres viveram, vivem e viverão esta mesma realidade dolorida, sem a perspectiva de conseguir mudar.


Onde andará Petrúcio Felker? (Allan Sieber, 2001)

Composto por depoimentos de amigos, inimigos e familiares do famigerado artista plástico Petrúcio Felker, este mockumentary satiriza os performers surgidos na década de 60 e que se tornaram mais visíveis nas décadas seguintes. Contando com um elenco de famosos como Paulo Betti, Paulo Cesar Pereio e Regina Casé, o curta expõe um escracho divertido que conquista facilmente o público com suas tiradas que ora optam pela sutileza ora escancaram vísceras para descambar para o humor negro.


A Invenção da Infância (Liliana Sulzbach, 2000)

Com um mote doloroso – “Ser criança não significa ter infância” – este documentário mostra os altos e baixos de uma nação que se acostumou a ver seus infantes misturando os limiares da juventude e da vida adulta. Ao adquirirem responsabilidades típicas do mundo do trabalho, as crianças deixam de seguir o curso natural de se relacionarem com o mundo através do próprio brincar, pois terminam envelhecendo mais cedo do que deveriam. Agregando elementos históricos – como a evolução do conceito de infância desde o Renascimento até a atualidade – e depoimentos de crianças e mães de diferentes contextos sociais, a diretora consegue expor o painel de uma infância que precisa se reinventar para que possa ser plenamente vivenciada.

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