16/02/2011

Tetro e o renascimento de um artista



Realizador de grandes épicos humanos como O Poderoso Chefão e Apocalipse Now, Francis Ford Coppola procurava equilibrar retratos de pessoas que tinham escolhas complicadas em sua vida com grandes acontecimentos, geralmente ligados ao confronto do outro – seja guerra, máfia ou a investigação.

Em Tetro (idem, 2010), seu mais recente trabalho, o diretor transborda tensão e sentimentalismo em uma Argentina atemporal para pôr em cheque as lembranças que tinha de seu irmão, compondo seu filme mais autobiográfico até o momento. Ele conta a história do ingênuo Bennie (Alden Ehreinreich), de 17 anos, que chega a Buenos Aires devido a um problema no navio onde trabalha. Ele aproveita o ocorrido para encontrar seu irmão mais velho, Angelo (Vincent Gallo), que resolveu tirar um ano sabático para escrever e nunca mais entrou em contato com a família. Bennie consegue encontrá-lo, mas Angelo não é mais a mesma pessoa: ele abandonou seu nome de batismo e agora atende apenas por Tetro, tendo se tornado uma pessoa de temperamento difícil e que esconde seu passado. Entretanto, o período em que Bennie vive com ele e sua namorada Miranda (Maribel Verdú) faz com que relembre experiências do passado, como o acidente de carro que vitimou a mãe de Tetro, assim como o relacionamento difícil deste com o pai.

Tetro tentou durante muito tempo escrever a “obra” de sua vida, no período em que esteve internado em um hospital psiquiátrico, quando, descoberto por Miranda, foi arrebatado para uma existência de isolamento, através da qual somente sua amada possui a chave. No entanto, Bennie tem o desejo e a insistência de participar de fato da vida do irmão e, por fim, conhecê-lo, o que vai fazer através da “obra” que seu irmão demorou tanto tempo para escrever e que terminou abandonando. Trazendo-a à tona através de um grupo de teatro burlesco, Bennie tenta atrair os holofotes para o irmão e, quem sabe, salvá-lo de sua tentativa de ostracismo.

Com uma belíssima fotografia, enquadramentos precisos e uma edição fluente e um elenco competente, Coppola constrói com firmeza e cada personagem, assim como consegue escolher e conduzir bem seus intérpretes, mesmo que escorregue no melodrama em alguns momentos. Parecendo ter sido influenciado pelo estilo brega e exagerado do teatro que homenageia em certos momentos do longa, Coppola, no entanto, parece escorregar em uma reviravolta almodovariana para sua história, levando o espectador para um estranhamento diante do que acabou de presenciar.

Parece que estamos diante do renascimento de mais um autor e todo renascimento pede alguns passos tortos, imprecisos, até que se consiga firmar uma obra completa.

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