14/12/2010

Minhas Mães e Meu Pai - Uma Nova Família


Em certo momento do longa de Lisa Cholodenko, todos os integrantes da família estão reunidos e todos brindam à uma “família incomum”: formada por duas mães, dois filhos e um doador de sêmen. Se antes a noção de núcleo familiar residia na composição de pai, mãe e filhos, amplamente propagados no cinema pelo chamado american way of life, hoje família termina se tornando algo construído de forma quase despropositada, quando os laços se tornam cada vez mais distantes espacialmente, porém mais unidos sentimentalmente.

Em Minhas Mães e Meu Pai (The Kids Are All Right, 2010), dois irmãos adolescentes, Joni (Mia Wasikowaska) e Laser (Josh Hutcherson), são filhos do casal homossexual Jules (Julianne Moore) e Nic (Annette Bening), concebidos através da inseminação artificial de um doador anônimo. Contudo, ao completar a maioridade, Joni encoraja o irmão a embarcar numa aventura para encontrar o pai biológico sem que as "mães" soubessem. Quando Paul (Mark Ruffalo) aparece, tudo muda, já que logo ela passa a fazer parte do cotidiano da família, o que traz conseqüências imprevisíveis no relacionamento amoroso de Nic e Jules, assim como na maternidade de ambas diante de uma figura paterna até então inexistente.

O roteiro de Cholodenko equilibra-se entre o drama e a comédia ao explorar questões que envolvem a paternidade e a maternidade homossexual no contemporâneo: enquanto Jules se frustra por não conseguir se firmar numa responsabilidade prática por sua vida, Nic esforça-se por controlá-la ao extremo, sendo excessivamente crítica e protetora com todos em redor; Joni e Laser, de formas diametralmente opostas, encontram em Paul um referencial masculino que os faz rever suas trajetórias como família, pois, ao se inserir nela, ele, de início, bem aceito, termina sendo expulso pelo desequilíbrio que terminou causando.

Dosando comicidade e drama, seus atores conseguem trazer tridimensionalidade a uma sinopse que, se em alguns momentos, resvalam no humor escrachado, conseguem trazê-los para dentro do seu universo: Julianne Moore e Annette Bening concebem duas mulheres apaixonadas num relacionamento aparentemente saudável que mostra suas feridas com a traição de Jules com o doador de esperma. No show de interpretação de ambas reside sua maior força: tanto na cena do restaurante, onde Nic e Jules conversam sobre suas dificuldades e inseguranças, assim como na cena do jantar na casa de Paul, onde, ao descobrir a traição de Jules, Bening desmancha seu rosto com a dor de uma revelação que ela imaginava nunca receber: como alguém que suportou a força de assumir um relacionamento homossexual “regride” para uma sexualidade hetero? Nesse momento, percebemos que não se trata de uma questão social ou simplesmente institucional como formação familiar, mas são sentimentos e decisões que residem na esfera do indivíduo .

Ambas conseguem mostrar por completo as inseguranças que suas personagens apresentam uma diante da outra, algo que supera os clichês do gênero “filmes de relacionamento gay”: se antes as maiores dificuldades residiam na possibilidade de se ter um relacionamento diante de uma sociedade preconceituosa, hoje os relacionamentos consumados enfrentam as mesmas dificuldades dos heterossexuais, como novo protótipo de família contemporânea.

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