17/02/2011

III Festival do Júri Popular – Competitiva 02


 Ela veio me ver (Essi Rafael, 2010)

Uma atípica comédia romântica por não seguir estritamente a cartilha que contem todos os clichês do gênero, este curta une dois adolescentes indecisos e inseguros a respeito de seu atrativos e do amor do outro. Equilibrando com certo humor a aparente banalidade do enredo, Rafael não consegue extrair dos atores uma grande interpretação, mas realiza belos enquadramentos e emprega soluções gráficas inventivas e adequadas ao universo que ele construiu, que capturam bem os momentos de singeleza e reflexão que os protagonistas atravessam.


Geral (Anna Azevedo, 2010)

Equilibrando um tom observacional com alguns depoimentos que injetam mais humanidade no retrato a que se propõe, Anna realiza um curta-metragem que conquista pela possibilidade de realizar um outro olhar sobre o ritual do jogo de futebol: as reações da torcida. Enquadrando imagens tensas e cômicas, a diretora celebra as componentes de um rito que universaliza todos os seres que comungam dos diversos sentimentos que o constituem com destreza e perspicácia.



Izamara (Diogo Hayashi, 2010)

Utilizando-se de um traço denso e tenso que, além do preto e branco, traz à tona uma animação quase palpável, Hayashi mostra um cotidiano sujo e solitário permeado por uma nostalgia pelo outro que se foi. Com planos mais longos do que o habitual e sons do cotidiano que criam com propriedade uma sensação lúgubre, o tempo parece se dilatar na tentativa de prolongar ao máximo a intensidade com que o protagonista estagna-se naquela atmosfera decrépita. A ausência de expressão dos atores permite ao espectador inferir a respeito do que, de fato, estava em jogo naquelas sensações: desprezo ou alívio pela mulher que um dia volta para onde estava?


O Som do Tempo (Petrus Cariry, 2010)

Na sequidão nordestina, o espectador mergulha sem medo na realidade miúda que o diretor exibe através de uma inspirada paleta de cores e monocromias e uma sonoridade quase sólida de tão presente, composta pelos sons diegéticos. O aparente vazio do sertão preenche aqueles que nele vivem com uma infinidade de tempo, enquanto que, aqueles que habitam na verve urbana, permitem-se esvair suas vontades diante de uma metrópole que parece lhes oprimir. Sem se prender ao ambiente sertanejo onde se fundamenta, o curta se universaliza ao deslocar sua câmera pelo mínimo, pelo zoom extremo ao cotidiano, onde sons e ritmos triviais compõem uma sinfonia sobre a própria passagem dotempo: ele não nos pertence, mas somos nós que caminhamos por sua estrada.


147 (Marcelo Tannure, 2010)

Embasando-se no gênero anedota, Tannure compõe uma animação 3D despretensiosa, que se pauta em interpretações cativantes e uma trilha sonora divertida a fim de trazer o espectador para um universo onde o descabido e o estrambólico tornam-se chave mestra para extrair o humor. Mesmo que seja mais curto do que o imaginado, torna-se agradável perceber como ele não estende seu enredo para além do necessário, mas conseguindo ser preciso em sua formatação.


Tempestade (Cesar Cabral, 2010)

Empregando técnicas de stop motion, Cabral conta a história de um navegante solitário que parte em um barco em busca de sua amada e precisa enfrentar uma tempestade a fim de cumprir seu intento. Com imagens muitíssimo bem construídas e um design de som perfeito, o curta ainda se utiliza de uma trilha sonora que reforça o aspecto melancólico de um quadro que parece estar vivo diante do espectador. Mesmo desesperançado ao não conseguir cumprir sua missão, o navegante se entrega à deriva de um amor vivenciado e o desejo do reencontro.


A Noite por Testemunha (Bruno Torres, 2009)

Realizando a reconstituição de um fato que chocou o Brasil, o curta de Bruno Torres mescla presente e passado através de atuações naturalistas e uma edição não-linear que compõem um quadro tenso da juventude niilista que terminamos criando. Se a voz do diretor “aparece” no tom policialesco de alguns momentos, deve-se à tentativa de forçar uma “moral/ironia” para o que acontecia, algo desnecessário quando toda a mensagem estava mais do que explícita através de tudo o que ele havia construído.

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