15/02/2011

Tradicional X Controverso em O Discurso do Rei



Quando se pensa em tradição, fala-se prontamente em transmissão de práticas ou de valores através de gerações, contudo, em nenhum momento, esta prática exclui a proposição de novas crenças e hábitos pelos próprios participantes da sociedade. A partir dessa idéia, pode-se analisar as maiores qualidades e deméritos da obra O Discurso do Rei (The King’s Speech, 2010).

Apresenta como principal mote a história de George VI (Colin Firth), sucessor do seu pai na monarquia britânica, mas que apresenta um grave problema de fala, algo inadequado para um governante que precisa transmitir segurança e autoridade através dos discursos que proferirá. Depois de passar por diversos tratamentos sem resultados positivos, sua esposa, Elizabeth (Helena Bonham Carter), leva-o até Lionel Logue (Geoffrey Rush), um terapeuta de fala de métodos controversos. Lionel despe a si e ao rei de todas as regalias que sua condição exigiria e se coloca de igual para igual com George, atuando como seu psicólogo e amigo. Seus exercícios e desafios fazem com que o rei adquira autoconfiança para cumprir seu maior desejo: ser aceito não somente como rei, mas como um ser humano.

Tom Hopper, emerso da televisão britânica, traz para sua convencional escrita fílmica o clima austero da monarquia, em que os enquadramentos privilegiam o equilíbrio e a estase, não permitindo que a história, em alguns momentos, tome vida própria diante da tela. Apoiado pela excelente trinca de atores – Firth, Rush e Bonham Carter -, o diretor equilibra momentos cômicos e dramáticos com obviedade e parece não saber conduzir os enquadramentos nem sua edição, optando por um cinema “correto” que não surpreende o espectador contemporâneo. Entretanto, ele não perde seu frescor somente pela força de seu elenco e da refinada construção cênica – direção de arte, figurinos, fotografia -, mas que, em conjunto, torna-se muito pouco para deleitar olhares mais críticos.

A obra de Hopper, mesmo de tratando da superação da tradição por pessoas que “não se encaixam” nos padrões convencionais, peca pelo paradoxo de estacionar no uso da linguagem fílmica ao não empregá-la com total desenvoltura através do espaço que dispunha.

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