19/02/2011

III Festival do Júri Popular - Competitiva 04

 
Eu Não Quero Voltar Sozinho (Daniel Ribeiro, 2010)

Tenso como base um relacionamento amoroso na vida de um deficiente visual, o diretor poderia facilmente cair no estereótipo de tornar a doença uma questão que dificultaria sua concretização, mas prefere direcionar seu olhar sutil para as pequenas situações que essa condição traz para um adolescente. Leonardo apaixona-se pelo colega de classe recém-chegado, mas em nenhum momento, questiona se o rapaz gostaria dele mesmo sendo cego ou se culpabiliza por esse fato. Ele, na verdade, passa por situações que qualquer um de nós faria se estivesse na mesma condição: pergunta a amiga como é a aparência do rapaz ou se ele mesmo é bonito, ele não vê a tristeza da amiga ao confessar a ela os sentimentos que tem pelo rapaz e, ao final, não vê que foi seu amado quem lhe deu o primeiro beijo. Ao invés de ironizar tais situações, o roteirista e diretor Daniel Ribeiro opta por extrair delas sua poesia, tornando sua história de amor universal, independente de qualquer particularidade que possa apresentar.


Transcomunicação (Arthur Tuoto, 2010)

Utilizando de imagens distorcidas a fim de questionar a representação através da própria imagem, seu diretor realiza um trabalho metalinguístico com uma discussão implícita no simbolismo que, se não permite ao espectador um tráfego sentimental, atinge certamente  atmosfera reflexiva sobre o aparente poder da imagem de "dizer" quem nós somos.


Fábula das três avós (Daniel Turini, 2010)

Iniciando seu enredo no instante em que a protagonista percebe que não tera mais sua mãe por perto, o curta de ____ traz um verniz infanto-juvenil ao propõr um passeio pelo fantástico através da figura de Ora Ora Ora, que, semelhante ao coelho da famosa história de Lewis Carroll, conduz nossa heróina mirim para encontrar sua verdadeira avó depois de passar por alguns "transtornos" com suas outras avós bizarras. Com fotografia e enquadramento belíssimos e um excelente trabalho de direção de arte e figurino, o diretor conduz um elenco que se desequilibra entre o natural e o teatral para contar uma história que trata da morte como algo negativo, a princípio, mas termina por mostrá-la ao final como algo necessário, por mais que não se queira encontrá-la.


Nalu (Stefano Capuzzi Lapietra, 2010)

Contando com uma trilha sutil e imagens marcantes - principalmente o plano sequência ao final -, o trabalho de ___ deixar o espectador adulto com resquício s de uma nostalgia por uma infância vivenciada com certa singeleza e poesia. Pensar em uma época em que brincar no mar era tarefa para um dia inteiro nos faz relfetir sobre como temos levado nossas vidas: na sobrevivência ou, de fato, na vivência.


Formigas (Caroline Fioratti, 2009)

Baseando-se em fatos ocorridos após a Segunda Guerra Mundial - a derrota do Japão divide a comunidade japonesa em dois grupos radicais que ameaçam aqueles que revelarem que a guerra acabou -, __ equilibra momentos de tensão e alívio ao conduzir a história de uma família japonesa residente no Brasil que, na mesma medida em que precisa enfrentar a infestação de formigas em sua plantação, espera por uma morte anunciada pelos seus próprios compatriotas. O olhar pueril diante da iminente ameaça que o pai recebe deixa o espectador livre da tensão típica do drama, permitindo surgir uma poeticidade e uma singularidade que definem bem a personalidade do trabalho.


Mídia Obsoleta (André Sicuro, 2010)

Tendo como cenário um novo mundo, ___ cria um video protesto que enfatiza o aparente primitivismo da nossa tecnologia diante de um um universo que se recriou à sua própria maneira. Usando uma máscara que remete, de alguma forma, às tradições primitivas dos aborígines, a criança que repete insistentemente "mídia obsoleta" ao longo do curta e destrói fitas de VHS, CDs e toda sorte de mídias talvez não compreenda plenamente a reverberação do que diz, mas o espectador, por mais desgostoso que saia da sessão, jamais esquecerá do paradoxo do alerta que recebeu: quem ou o que de fato permanece em um mundo que sempre se recria?


Intervalo (Alexandre Rafael Garcia, 2010)

Com referências a um observacionismo típico dos documentários, este curta não possui uma trama específica, mas traços de uma história que percorre os intervalos das aulas de um colégio secundarista. Nele, estão presentes os exercícios físicos, as fugas dos rapazes, as brigas de namorados, os desentendimentos, mas todos esses elementos sem nenhum desenvolvimento em particular, exceto por uma repentina briga entre colegas que termina por quebrar a linearidade de um trabalho que permanecia na letargia das relações daqueles adolescentes, como se fosse um grito de alerta para aqueles que não percebem que estão vivos.


RAZ (André Lavaquial, 2010)

 Apropriando-se do tema da arte como uma forma de expressão e contestação, este curta desloca a intenção original do diretor – tratar dos adolescentes romenos que cantam nos metrôs em Paris a fim de sobreviver – para outra realidade: as favelas no Rio de Janeiro. Enquanto luta para construir uma vida diferente para si mesmo, RAZ perde seu rádio no meio da cidade e encontra, através das estátuas vivas, outra ferramenta - uma vitrola e discos de vinil - que pode lhe proporcionar a sobrevivência. Com imagens que mesclam sonho e realidade com muita propriedade, Lavaquial realiza uma jornada musical por diversos ritmos ao longo de um dia na vida de um adolescente que deseja simplesmente sair, escapar de uma vida de desconforto e melhorar. Contudo, talvez seu impacto fosse maior se sua proposta original fosse executada, já que esta estratégia de sobrevivência já se tornou usual no Brasil, mas observar este tipo de trabalho na França é algo diferente e que causaria um estranhamento que favoreceria a mensagem do curta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário