20/02/2011

Buitiful e a beleza da morte



O diretor mexicano Alejandro Gonzalez Iñárritu tornou-se conhecido por histórias que revelam a dureza do ser humano diante de um mundo que parece lhe exigir sempre um posicionamento de ataque. Geralmente mesclando, através de uma edição não-linear, três núcleos de histórias que, de alguma forma se conectam uns com os outros através de suas diferenças, em Biutiful (Biutiful, 2010) ele se renova ao abolir seu estilo narrativo ao centralizar a narrativa em um único protagonista, deixando que os outros núcleos – formado pelos grupos familiares de chineses e negros – complementem o ponto de vista que ele escolheu.

Ele conta a história de Uxbal (Javier Bardem), pai de família que coordena vários negócios ilícitos - que incluem a venda de produtos nas ruas da cidade e a negociação do trabalho de um grupo de chineses -, além de possuir o dom de falar com os mortos e usar esta habilidade para cobrar das pessoas que desejam saber mais sobre seus entes que partiram há pouco tempo. Uxbal precisa conciliar sua agitada vida cuidando de seus dois filhos – Ana e Mateo -, já que a mãe deles, Marambra (Maricel Álvarez), é instável. Até que, após sentir fortes dores por semanas, ele resolve ir ao hospital, onde descobre que está com câncer e que tem poucos meses de vida.

Deleitando-se no trabalho de Javier Bardem e de Maricel Álvarez, sua acompanhante em cena, Iñarritu compõe um longa sobre a necessidade de se reinventar diante da morte, como um renascimento para o mundo que tanto lhe oprimiu outrora. Uxbal vive em um mundo difícil, em que não pode confiar na própria mulher e não pode deixar que seus filhos fiquem sozinhos depois que morrer: ele precisa olhar para dentro da própria morte para conseguir, enfim, encontrar alguma paz. Em um momento singular do filme, a câmera na mão consegue registrar a autêntica emoção no instante em que Ana descobre que seu pai vai morrer: ao ver o pai cada vez mais doente, ela lhe perguntar o que está acontecendo e ele lhe confessa que não tem muito tempo de vida pela frente. Ele, então, olha fundo nos olhos da menina e lhe fala algumas palavras, mas com um sentimento tão forte que parece transcender a tela e alcançar o espectador em cheio, podendo-se ouvir claramente até a batida forte do coração dos atores em cena.

Sem utilizar os maneirismos visuais e narrativos que se acostumou a fazer, Iñárritu permitiu que a força de seus personagens, atores e história falasse por si mesma, não deixando que sua mão pesada tomasse as rédeas e quem sabe, entornasse o caldo da mistura deliciosa que preparou para seu público, que reage praticamente indefeso diante de uma beleza insuspeita na obra de uma cineasta que se acostumou a ver um mundo tão duro no horizonte.

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