18/02/2011

III Festival do Júri Popular – Competitiva 03



 Garoto de Aluguel (Tarcísio Lara Puiati, 2009)

Tratando da exploração do corpo humano de diversas formas, este curta emprega uma edição não-linear que quebra a expectativa e “desterritorializa” a percepção temporal do espectador, como se o conduzisse para uma esfera onde a lógica permanece sempre sendo quebrada pelas tentativas de posicionamento emocional. A câmera na mão e a fotografia granulada em alguns momentos conseguem ser os maiores destaques que peca pelos diálogos nonsense que dispersam a narrativa ao invés de concentrá-la, algo enfatizado pelos atores que pouco mergulham na sua arte de maneira satisfatória, permanecendo na superfície dos estereótipos.

Como é bonito o elefante (Lucas Barbi e Juruna Mallon, 2010)

Influenciado pelo naturalismo intimista que tem tomado conta da cinematografia européia, este curta acompanha o retorno de sua protagonista ao seu lugar de origem, mas com uma profunda sensação de distanciamento em relação ao lugar que um dia deixou, como se ele não lhe pertencesse mais ou vice-versa. De modo aparentemente simples, mas que reserva boa dose de reflexões existenciais, os diretores conseguem conduzir o espectador por essas emoções e questionar a própria sensação de ocupar um lugar no espaço e as consequências emocionais desse fato.


Peixe Pequeno (Vincent Carelli e Altair Paixão, 2010)

Caminhando por dentro do cotidiano de uma aldeia indígena, o diretor leva o espectador por um passeio ligeiro e leve sobre as mudanças nos hábitos dos seus residentes: enquanto os mais velhos se ocupam com a pescaria, vemos as crianças e adolescentes ansiando e brigando por mais um gole de Coca-Cola, o menino que aprende a vestir uma camiseta e outras imagens que nos levam a refletir sobre a aceitação de mudança na cultura aborígene. O que será que acontece quando hábitos de outros lugares transitam por um lugar que antes foi intocado: a agregação ou substituição de uma cultura pela outra?


Fantasmas (André Novais Oliveira, 2009)

Mostra-se como um convite à intimidade de dois amigos, que, partindo de uma conversa banal, terminam por conduzir o espectador por um caminho onde a dor/desejo do protagonista revelam-se através do que não está na tela, mas que se espera que esteja. Questionando a relação do homem com a imagem de maneira simples, mas ao mesmo tempo reflexiva, o espectador, ao final do curta, percebe que nem sempre a história precisa acontecer diante da câmera, mas em torno dela.


Haruo Ohara (Rodrigo Grota, 2010)

Focando na reconstituição das fotografias do artista japonês Haruo Ohara (1909-1999), este curta concebe belos quadros vivos com uma fotografia belíssima que leva o espectador ao prazer do olhar. Com um roteiro que pouco explica sobre seu objeto de estudo, mas prefere deixar que o espectador o sinta, termina deixando o público que não conhece o trabalho do fotógrafo um pouco perdido na proposta do diretor.


A Inventariante (Patricia Francisco, 2010)

Sugerindo um aparente frieza do processo de inventariar os objetos pertencentes à avó e que agora lhe forma entregues por herança, a protagonista conduz o espectador na criação de suas próprias lembranças, tentando compartilhar o significado que aqueles objetos tem para ela. A melancolia de Chopin, no entanto, termina sendo relegada à tarefa ingrata de emocionar o espectador que não consegue se envolver de fato com a proposta da diretora, justamente, por não conhecer o valor simbólico destes bens. Talvez somente aqueles espectadores que tenham recebido heranças emocionais de entes queridos que terminaram indo embora e deixando signos desses momentos que um dia compartilharam.


Recife Frio (Kleber Mendonça Filho, 2009)

Baseando-se nos cinejornais do início do século XX, Kleber Mendonça Filho realiza um mockumentary com toques de ficção científica ao propor imagens e depoimentos de uma situação particularmente nonsense, se vista nos dias atuais: o Recife como uma cidade onde as mudanças climáticas terminam por mudar toda sua concepção como lugar tropical. O humor nonsense do diretor traz cargas de um Monty Python mais contido, mas que se universaliza ao trazer à baila ícones reconhecidos tanto local como globalmente. Uma sessão divertida e que também carrega em si um pouco de crítica social sutil

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