26/02/2012

O Artista e a estética da limitação


Durante a sessão de O Artista (The Artist, 2011, Michel Hazanavicius), lembrei-me de uma conversa que tive com um amigo meu, que me falava sobre um aplicativo de celular que dava às fotos que se tirava com ele um aspecto semelhante às antigas câmeras soviéticas LOMO. Diante disso, ele conclui que o que antes era uma limitação das máquinas fotográficas terminou se tornando um estilo, possuindo uma estética particular e reconhecível.  O mesmo acontece com o cinema mudo, como iremos ver a seguir.

Esse filme versa sobre George Valentin, um ator de cinema mudo que se recusa a aderir ao cinema sonoro, que, na verdade, provocou a ascensão de outros artistas que revelaram outras habilidades diante da tela: canto, dança e belas vozes. Uma destas artistas é Peppy Miller, que se antes era objeto de afeto do protagonista, termina se tornando sua salvação, ao usar de seu prestígio para permitir que George suba novamente na carreira.

Com esse enredo simples, encontramos o clássico Cantando na Chuva, que partia do mesmo pressuposto, mas era, antes de tudo um musical, fazendo da proposta de Michel Hazanavicius ainda mais ousada. Afinal, quem assistiria a um filme mudo e francês no cinema hoje em dia, excetuando-se as sessões de Chaplin, Keaton e Lloyd em festivais de cinema por aí afora. E o trabalho de direção é notável, pois consegue empregar todos os elementos característicos deste cinema a seu favor: as cartelas com os diálogos, a interpretação pantomímica dos atores (algo raro até mesmo no teatro, que tem procurado uma estética cada vez mais realista), a trilha sonora onipresente e quase ilustrativa e a montagem que deixa os planos durando mais tempo do que nos acostumamos.

Todos esses elementos reproduzem bem o estilo da época e criam no espectador uma viagem a uma época que não existe mais, onde o cinema era mais inocente, em que nossas únicas preocupações eram contar histórias. Por mais que pareça uma experiência mais estética do que propriamente de entrar em contato com um conteúdo novo e com pouco a oferecer, depois de sair da sala de cinema, passei a prestar mais atenção nos sons à minha volta, assim como a uma arte que, durante muito tempo, terminou se tornando mais do mesmo pra mim. Lembrar dos momentos em que, aos dez anos de idade, descobri Chaplin num especial da Rede Globo de 1995foi uma grata experiência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário