Durante a sessão de O Artista (The Artist, 2011, Michel Hazanavicius), lembrei-me de
uma conversa que tive com um amigo meu, que me falava sobre um aplicativo de
celular que dava às fotos que se tirava com ele um aspecto semelhante às
antigas câmeras soviéticas LOMO. Diante disso, ele conclui que o que antes era
uma limitação das máquinas fotográficas terminou se tornando um estilo,
possuindo uma estética particular e reconhecível. O mesmo acontece com o cinema mudo, como
iremos ver a seguir.
Esse filme versa sobre George Valentin,
um ator de cinema mudo que se recusa a aderir ao cinema sonoro, que, na
verdade, provocou a ascensão de outros artistas que revelaram outras
habilidades diante da tela: canto, dança e belas vozes. Uma destas artistas é
Peppy Miller, que se antes era objeto de afeto do protagonista, termina se
tornando sua salvação, ao usar de seu prestígio para permitir que George suba
novamente na carreira.
Com esse enredo simples, encontramos o
clássico Cantando na Chuva, que partia do mesmo pressuposto, mas era, antes de
tudo um musical, fazendo da proposta de Michel Hazanavicius ainda mais ousada.
Afinal, quem assistiria a um filme mudo e francês no cinema hoje em dia,
excetuando-se as sessões de Chaplin, Keaton e Lloyd em festivais de cinema por
aí afora. E o trabalho de direção é notável, pois consegue empregar todos os
elementos característicos deste cinema a seu favor: as cartelas com os
diálogos, a interpretação pantomímica dos atores (algo raro até mesmo no
teatro, que tem procurado uma estética cada vez mais realista), a trilha sonora
onipresente e quase ilustrativa e a montagem que deixa os planos durando mais
tempo do que nos acostumamos.
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