A
angústia sobre si mesmo, pode-se dizer, é quase uma doença que tem afetado a
sociedade contemporânea: valorizamos muito pouco o que somos ou o que temos e
estamos sempre à procura de ideais de “mais e melhor” que nós mesmos
desconhecemos.
Em
Preciosa (Precious, 2009, Lee Daniels), vemos a história de Claireece
“Precious” Jones, uma adolescente negra e obesa que está grávida do segundo
filho, concebido por meio do estupro do pai, e que sofre diariamente a
violência física e psicológica por sua mãe, Mary. Precious tenta obter uma
educação melhor em uma escola alternativa, numa sugestão da diretora do colégio
de que foi expulsa por sua condição familiar complicada e, aos poucos, aprende
a valorizar a si mesma. Num contexto que lembra, em alguns momentos, filmes
motivacionais como À Procura da Felicidade ou A Cor Púrpura, Preciosa
diferencia-se pelo retrato da degradação familiar por meio de um roteiro denso
e por um elenco primoroso.
Em
certos momentos da narrativa, me perguntei o que leva o ser humano a fazer
tantas maldades contra seus semelhantes e, por vezes, contra aqueles que são
sangue do nosso sangue, como a personagem Mary. Numa rápida análise, penso que
essa personagem infringe sobre Precious tanta violência quanto ela acredita que
ela mesma mereça, Mary odeia mais a si mesma do que a filha, pois sente-se
angustiada com a possibilidade de ser abandonada pelo marido, pela filha e
terminar seus dias sozinha, vivendo do dinheiro do seguro desemprego. E a
maestria de Daniels está justamente em orquestrar essas duas personalidades na
tela numa relação clara de opressão que se inverte ao final do filme, quando
conseguimos nos sentir piedosos por aquela figura que aprendemos a odiar
durante quase duas horas.
Se
soa como filme “auto-ajuda” em alguns momentos, são pequenas falhas diante de
uma pérola que nos faz acreditar em dias melhores para aqueles que passam por
tempestades de uma existência viva e presente, como Preciosa afirma se sentir
em determinado momento: “estar aqui”.
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