Vimos essa história diversas vezes: uma
pessoa decide lutar pelos direitos dos negros, com discursos contra a
segregação racial e toda sorte de preconceitos que possam existir, com músicas
triunfantes e toda a receita do bolo. E, claro, Histórias Cruzadas (The Help, 2011, Tate Taylor) não poderia ser
diferente: Skeeter é um jovem sulista que consegue um emprego em um jornal da
cidade e, com a convivência mais próxima com as empregadas negras Aibellin e
Minny, tem a ideia de escrever suas histórias num livro chamado The Help – “a ajuda”, como os empregados
são chamados (“uma ajuda no lar”). Mas as histórias desagradam às patroas, que
logo se reconhecem nas narrativas do livro e fazem de tudo para pôr um ponto
final na confusão que a revelação das mesmas pode promover.
Dito dessa forma, não parece uma
história com grande potencial, já que existem tantas como essa em telefilmes
espalhados pela televisão norte-americana, assim como parecia um bocado
ultrapassado resgatar “filmes de racismo” quando esse parece ser um assunto
ultrapassado. A eleição ao primeiro presidente negro nos EUA com certeza foi um
passo histórico, mas ainda precisamos nos lembrar de onde viemos, pois nunca se
sabe quem será o ‘bode expiatório’ da vez: os árabes, quem sabe. Tate Taylor,
apesar de não conseguir fugir da fórmula de filmes edificantes, escreve o
roteiro – com excessos que poderiam ser retirados com ajuda de um roteirista
assistente - e dirige um longa que consegue extrair o máximo de seu elenco
multifacetado.
Vinda das comédias românticas e de
alguns filmes menos convencionais, Emma Stone fundamenta seu chão em Hollywood
e pode se tornar anova Anne Hathaway, que começa com no romance e começa
enveredar pelo drama. Enquanto isso, Viola Davis se firma como uma das maiores
atrizes da atualidade, sempre fazendo um bom trabalho mesmo nas menores
participações, principalmente nos minutos finais, quando Taylor sabiamente
deixa a câmera estática por alguns segundos, capturando a reação de sua
personagem a uma notícia decepcionante em certo momento da narrativa. Ela e
Octavia Spencer dominam a tela, construindo figuras cativantes não pela
tragédia, mas pela força e simpatia que demonstram ao longo de sua trajetória.
Mas claro que a maioria branca consegue ter duas atrizes de peso, mas que
jamais ofuscam suas estrelas principais: se Bryce Dallas Howard ganha nosso
ódio em cada fotograma, com certeza Jessica Chastain se transforma
completamente desde os primeiros segundos, não deixando nenhuma pista de seu
trabalho denso e dramático em A Árvore da Vida. Não assista esse longa pensando que vá mudar o
cinema ou a si mesmo, mas assista-o para observar esse elenco belo
e coeso contando uma história antiga.
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