A grande vague de reciclagem oitentista vem dominando cada vez mais os
produtos de mídia, gerando musicais como Rock
of Ages, os últimos filmes de comédia adulta, como A Ressaca e Este é o meu
garoto. Nesta esteira, temos este DetonaRalph (2012, Rich Moore), que além de apostar no universo dos games, o que
já rende um amplo self service de
possibilidades, demonstra apontar para algumas tendências que tem aparecido com
frequência em filmes recentes: atrair crianças, mas também também a adultos que
cresceram nos anos 80 e 90 com inúmera referências pop (cinessérie Shrek); apostar na inversão dos papeis
de vilão e herói (Meu Malvado Favorito
e Megamente) e apostar na ascensão
dos excluídos / minorias como temática (série Glee e derivados).
Se a história em si apresenta poucas
novidades, a direção de arte e a trilha sonora são alguns dos maiores destaques
do longa, porque investem em uma paleta
de cores sortida que encanta os olhos e mostra versatilidade ao mostrar
universos distintos por meio das formas (como a diferença entre o 8 bit e os
jogos com alta resolução e o universo do Sugar Rush, por exemplo, que são
diametralmente opostos), enquanto que as músicas investem na releitura de
músicas típicas dos videogames oitentistas. Com todos os elementos, Detona Ralph não inverte definitivamente
conceitos – e nem pretende –, mas agrada, investindo num discurso que questiona
os papeis que a própria narrativa “impõe” aos seus personagens. Quando
questiona seu papel dentro da caracterização de seu próprio personagem, Ralph
está questionando o ato do narrador em lhe atribuir essa característica, ou
seja, ela está problematizando sua própria condição, seu papel naquela
sociedade e tirando, momentaneamente, a máscara do vilão para colocar a de
herói.
Quando nos lembramos de
Christopher Vogler e seu famoso livro A
Jornada do Escritor, vemos que ele trata dos arquétipos diversos (Herói,
Sombra, Pícaro, Aliado etc.) não como
papeis estanques e vinculados a determinados personagens, mas como máscaras que
podem ser trocadas e/ou divididas entre os mesmos, lembrando que assim o
fazemos na nossa própria existência. Somos heróis de nossas próprias histórias,
por mais, em alguns momentos, outros nos enxerguem como vilões e vice versa.
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