01/01/2013

A performance do existir em Holy Motors



Depois de uma sessão de Holy Motors (idem, Leos Carax, 2011), parece uma tarefa complexa tentar delinear o eixo de discurso que o diretor propõe em sua obra enigmática, mas justamente por essa conexão densa e intrincada de charadas que se mostra a habilidade de Carax.  O longa acompanha um dia na(s) vida(s) de Oscar, que transia entre vários papeis ao longo deste dia, sendo sempre conduzido em sua limusine por Céline, sua motorista. Nomear o trabalho de Oscar como performer seria deveras simplista, visto que as intervenções que este sujeito realiza atravessa a existência do seu público, que está entre ele e interage com ele de forma concreta.
A partir destas conjeturas, pode-se pensar: o que, de fato, pode ser considerado performance? Onde ela começa e termina? No momento em que estou escrevendo esse texto, não estou assumindo um determinado papel que me imprime certos dogmas, regras e condutas de forma consciente ou não? O que me distingue de Oscar é que ele doou deliberadamente sua existência em favor dos papéis que trabalha arduamente para interpretar, enquanto que eu os exerço com o mesmo nome, a mesma idade, o mesmo rosto, o mesmo corpo, a mesma alma.
Quando nos permite realizar este tipo de reflexão, Carax problematiza não somente o que entendemos como arte e existência e as nuances entre uma e outra dentro do filme, mas também nosso papel enquanto espectadores. O que estou vendo? Porque estou vendo? O que me leva a, conscientemente, conduzir-me a uma sala escura e iludir-me com as narrativas que estão impressas na tela grande? Que objeto de fascínio é este que se encontra na tela? Qual a função da ilusão pra mim? Iludimo-nos ao nos projetar no Outro, nesse protagonista que, na tela, podem ser os tantos em que Oscar se traveste – o assassino, o pai, o empresário, o louco etc. – por talvez desejarmos, por um par de horas, sermos outros que não nós mesmos. Seja belo ou grotesco, ou até mesmo extremamente comum, ser um Outro nos fascina.
Com um Denis Lavant que domina a tela com sua atuação visceral, uma fotografia que explora tantos os coloridos como os tons soturnos, uma trilha que ressalta as emoções do longa sem se sobressair, Holy Motors apresenta ainda uma montagem dinâmica que acerta ao não fazer o filme se perder por seu caráter episódico. A sensação e a beleza de estar em movimento – não somente pelo carro, mas pela própria vida – pulsa sem exageros e de forma fluente, com sua dialética entre o ser efêmero e eterno até o questionamento final: quem está vivo, afinal?

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