27/03/2011

Dogma e o automatismo da fé



Quando se fala em fé, sempre se pensa em diversos tipos de crenças que cercam a busca pela Verdade em que se queira basear a sua vida, variando de acordo com as entidades e ritos que se realizam para esse encontro com o divino. Em Dogma (Kevin Smith, 1999), o diretor constrói um trabalho que satiriza as imperfeições e os desastres que surgem dessa necessidade de conexão com algo maior do que nós mesmos e a aparente falta de sentido em se negar essa necessidade.

O longa conta a história de Bethany, uma católica – que trabalha em uma clínica de abortos - cuja vivência da fé tem sido levada como algo distante de si mesma, desejando um reencontro com uma crença viva. Em uma noite de sono, ela é convocada pelo anjo Metatron para uma jornada inóspita: impedir que dois anjos expulsos do Paraíso, Loki e Bartleby, entrem em um portal criado pela Igreja Católica que perdoará todos os pecados daqueles que por ele passarem. Se eles forem perdoados pelos suas falhas, eles terminariam provando que Deus errou, o que acabaria com a existência do mundo.

Junto com ela, parte uma galeria de personagens que desejam ajudar ou impedir seu cumprimento: Jay e Silent Bob, dois profetas malandros; Rufus, o 13º apóstolo, excluído da Bíblia por ser negro; Azrael, um demônio que deseja lançar uma guerra entre Céu e Inferno ao ajudar Loki e Bartleby; três jogadores de hóquei satanistas que realizam atos de vandalismo para ajudar as forças do Mal; e tantos outros que mostram a dinâmica da imperfeição traçada por Smith. Mesmo utilizando uma linguagem cinematográfica simples e efeitos especiais toscos, o diretor utiliza seu cinema intertextual para manipular diversos símbolos da cultura pop através de seus diálogos espertos e cheios de palavrões, objetivando questionar e satirizar a robotização de nossas próprias crenças.

Com essa multiplicidade de pontos de vista a respeito do modo como conduzimos nossa fé, Smith utiliza sua linguagem não para afirmar, mas para perguntar a seu espectador qual o sentido de sua fé, qual o sentido de perpetuar gestos vazios ao invés de se aprofundar na essência daquilo ou Daquele que, aparentemente, nos faz tão bem? Qual a linha que separa a compreensão da fé como um prazer ou um fardo?

2 comentários:

  1. Então, acho DOGMA um filme bacaninha, tem momentos engraçados, mas tem uma premissa que prometia gerar um filme muito melhor. O humor excessivamente escrachado acaba atrapalhando, a meu ver. Falta sutileza para as críticas propostas por Smith funcionarem totalmente.

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  2. Oi, Grande Wallace. Realmente, algumas coisas são muuuuito toscas no cinema de Smith. Mas o que eu gosto dele é essa despretensão, sabe? Não eh cinema pra pensar muito, mas tb naum eh isento de imaginação.

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