25/07/2009

A reificação do contato por A Garota Ideal


Em determinado momento do longa de Craig Gillespie - A Garota Ideal -, Lars recebe para Bianca, sua namorada (uma boneca encomendada por um site especializado em objetos eróticos), um vaso de flores entregue por uma senhora da igreja que ele freqüenta. Sua resposta? "Essas flores não são de verdade, Bianca. Elas vão durar para sempre." Da mesma maneira, podemos nos identificar com o relacionamento ideal que tanto Lars quanto nós procuramos: um relacionamento eterno, perfeito.

Quais as garantias de se obter um contato desse tipo? Com as coisas. Elas estão imunes a sentimentos, frustrações, incompletudes. Acreditamos ser perfeito um relacionamento desse tipo: quando não precisamos nos expor para conseguir um sentimento recíproco, quando não precisamos amar para receber em troca. Os inanimados não precisam retribuir. Como pensar em relacionamentos humanos perfeitos desse modo? Impossível, digo e provavelmente todos vocês repetirão. Lars, inconscientemente, aprende a se relacionar com as pessoas, a deixar que a "vida", a participação que os objetos têm na sua vida perca força e dê espaço para os relaiconamentos de verdade. Essa perfeição que enxergamos na relação com os objetos, na verdade, é a perfeição não que desejamos encontrar nos outros, mas em nós mesmos. As pessoas ao redor de Lars, mesmo que não o mencionem, também sentem-se desse modo. Tanto que, na tentativa de aproximar o rapaz solitário de seu convívio, acolhem sua "namorada" e a fazem participar de suas atividades para que o rapaz também o faça. Com o tempo, porém, a "moça" passa a fazer parte da vida de cada um deles, tornando-se o personagem mais querido, dno de uma personalidade quase palpável de tão presente. Bianca torna-se, desse modo, uma "garota real".

Graciosos, sinceros e corajosos. É como posso classificar a construção dramática tanto do roteiro de Nancy Oliver como da interpretação de Ryan Gosling, que nos transportam para o universo de Lars e nos fazem compreender sua situação, assim como todos ao seu redor. Viver uma mentira muitas vezes é um dos modos de nos fazer enxergar a verdade. Revelamo-nos mais quando tentamos nos enganar do que quando tentamos enganar aos outros.

Como, então, amadurecer? Quando tornar-se adulto para os relacionamentos? Nunca, atesta o longa. Pois nunca esquecemos nossas meninices e imaturidades. Afinal, são elas que nos fazem seguir em frente.

2 comentários:

  1. Um roteiro corajoso que é todo construído em uma lina tênue.

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  2. Pois é. Alternando comicidade e drama, o longa jamais zomba de seu protagonista, mas acompanha sua jornada em direção ao amadurecimento.

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