10/07/2011

(Re)escrever o Real - Os Irmãos Grimm



As narrativas, os mitos, os ritos sempre povoaram a mente do ser humano e, até hoje, continuam a se perpetuar dentre as mais diversas mídias, pois a construção de histórias – reais ou ficcionais – sempre nos ajudará a lidar com situações que surgem diante de nós. Dentre tantas histórias que conhecemos, os contos de fada tornaram-se universais pelas mãos e mentes de dois irmãos que resolveram publicar histórias que há muito tempo eram contadas e recontadas pelo povo: os Irmãos Grimm. O longa digirido por Terry Gilliam, Os Irmãos Grimm (The Brothers Grimm, 2005, Terry Gilliam), decide, no entanto, não escrever a história dos irmãos como, de fato, ela aconteceu, mas permitir aos dois escritores mergulharem no universo dos contos de fada que eles mesmos publicaram – como se fosse um “registro-x” da verdadeira História.

O longa dirigido por Terry Gilliam reúne diversas referências a contos como Chapeuzinho Vermelho, João e Maria e Rapunzel para contar a história de Will (Matt Damon) e Jacob (Heath Ledger) Grimm, que, com doses de ilusionismo e charlatanismo, sobrevivem de aplicar golpes em cidadãos que almejam ver os seres sobrenaturais que assombram os redutos de seus vilarejos destruídos ou escorraçados. Os medrosos e estranhos habitantes das cidades que os Grimm visitam desconhecem que eles mesmos forjam os ataques das bestas e bruxas a fim de angarias alguns trocados com o medo e a ignorância alheia. No entanto, quando são incumbidos de desmascarar o truque de outros charlatães que estão aterrorizando a cidade de Margraden ao seqüestrar adolescente, eles percebem que existem outras ameaças sobrenaturais verdadeiras com as quais eles precisarão lidar.

Enquanto que Will caracteriza-se mais pelo ceticismo e praticidade, em Jacob predomina a sensibilidade e o intelecto, tornando-se o responsável por redigir as desventuras dos irmãos em contos que são reunidos em um livro. A partir deste mote, Gilliam trabalha com diversas referências ao universo habitados pelos personagens dos irmãos Grimm, trabalhando com um elenco variado – além de Damon e Ledger, temos Peter Stormare, Monica Bellucci e Jonathan Pryce – e com uma direção de arte e uma fotografia desbotados que caracterizam uma sujeira da Alemanha da época, dominada pelos franceses. Da mesma forma, a trilha sonora tenta capturar o espírito tradicional e fantástico da aventura, compondo um cenário de fábula dark que atende aos públicos juvenis e adultos. Com um Matt Damon no piloto automático e um Heath Ledger que investe nas caretas para tentar trazer um Jacob mais humano e menos melancólico, o ex-Monty Python investe em efeitos especiais terríveis para sustentar a narrativa ao invés de apostar na sutileza, o que, talvez, teria melhorada o resultado da empreitada, que permanece no terreno dos clichês para proporcionar um entretenimento passageiro e esquecível.

Precisamos de histórias para lidar melhor com os problemas e alegrias que vivenciamos, admiramos o cinema por nos permitir viajar por essa estrada de auto-reconhecimento e entretenimento. No entanto, por vezes, não encontramos uma história ou formas de contá-la que nos atraiam ou nos incomodem o suficiente para mudar nossa concepção sobre os fatos.

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