06/03/2011

Bravura Indômita ou Violência Desmedida?



Dentro de sua extensa filmografia, os irmãos Coen trabalharam com gêneros diversos – comédias, dramas, suspenses -, mas, com dois deles em particular, eles sempre flertaram de maneira curiosa: o noir e o western, que mesclaram a fim de compor uma metáfora com a decadência tanto do gênero-símbolo dos EUA como da própria nação.

Em Bravura Indômita (True Grit, 2010), eles optam por realizar um trabalho aparentemente oposto, utilizando um expoente do ápice do western na filmografia norte-americana, estrelado pelo icônico John Wayne como Rooster Cogburn. O federal contratado pela pequena Mattie Ross para encontrar o assassino de seu pai, Frank Ross, no interior dos EUA dosa coragem e egoísmo para cumprir com louvor o intento da menina. Conduzindo a jovem pelo submundo dos caçadores de recompensa e dos destemidos vilões de uma sociedade que aprendeu a sobreviver pelo mal que impõe sobre o outro, ambos embarcam em uma jornada onde os predadores estão mais próximos do que se imagina: dentro de nós mesmos.

A pequena Mattie, interpretada com louvor por Hailee Steinfeld, mescla inocência e determinação na busca que engendra para vingar não somente seu pai, mas a sua própria vitimização, tornando Chaney quase um mito dentro de seu cotidiano violento. No entanto, quando conhecemos o assassino, ele surge comum, banal, quase patético ao lavar seu cavalo no rio, bem diferente de toda a impiedade demonstrada pela criança. Entretanto, a percepção mais perigosa das conseqüências desta violência reside em uma cena particular: quando, no caminho de volta, o cavalo de Mattie, Little Blackie, não agüenta o percurso e precisa ser sacrificado, a menina desespera-se ao pedir que Cogburn não mate o animal. Esta consiste em uma virada peculiar para a personagem, que, até então, se mantinha impassível diante de todos os assassinatos cometidos durante sua jornada, fazendo o espectador questionar a juventude que surge em uma sociedade que vê o mal se relativizando dessa forma.

Discutindo o poder dessa violência de nos anestesiar diante do sofrimento, os Coen compõem um painel vivo de uma época perdida no tempo, mas não no nosso inconsciente, pois esse fotograma dos velhos westerns ainda nos comunica que, mesmo crescendo e evoluindo, continuamos os mesmos.

2 comentários:

  1. BRAVURA INDÔMITA é um belo e melancólico western. Gostei demais.

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  2. É mesmo. Se parece convencional de início, ele usa essa convenção para "nos dar uma rasteira" no final.

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