19/09/2009

O tradicional pós-moderno em Samurai Jack


Em certo momento do piloto para o desenho animado Samurai Jack - dirigido por Genndy Tartakovsky -, o herói, até então sem nome, é enviado pelo vilão Aku para o futuro da humanidade, onde este reina absoluto sobre a população. Esse mundo não é muito diferente do nosso, povoado pelas bugigangas tecnológicas a que nos acotumamos a estar cercados 24 horas por dia, nos quatro cantos do mundo. Um mundo completamente diferente do Japão feudal. Onde carros voadores, gírias incompreensíveis e bares do submundo recheados de música eletrônica muliplicam-se como coelhos no cativeiro.

Diante da construção plástica e narrativa da primeira parte do filme - que resgata elementos da estética oriental, permeada pela relevância do visual em detrimento do diálogo -, torna-se um choque para o espectador enfrentar o modo "americano" de escrita ao rechear o longa de diálogos e gags visuais típicas do audiovisual ocidental. O tradicional encontra o pós-moderno. O Oriente encontra o Ocidente. O choque é inevitável. Os modelos industriais de produção e recepção midiática do Ocidente tornam-se os instrumentos de dominação de Aku, algo só percebido pelo herói nipônico, que mantém sua missão de destruir o cerco proposto pelo vilão à sua existência.

O passado, o tradicional ganha, através desse longa, ares diferentes do chamado pós-moderno: viver o hoje não significa negar o vivido, tratá-lo como retrógrado, mas resgatar dele suas relevâncias a fim de construir um futuro com objetivo, aprendendo com as falhas experimentadas. O samurai sem nome ganha, então, o nome mais americanaizado que poderia existir - Jack - mas mantém seus princípios orientais, sua missão. Algo que muitas vezes nos falta: um objetivo pelo qual percorrer. Diante de um cardápio infinito de possibilidades, a indecisão permeia nossas mentes. Vivemos à procura de certezas, problemas que os antepassados não vivenciavam. Por que tinham quem lhes dissesse seus obejtivos. Como encontrar o caminho do meio? Vivendo as incertezas, para encontrar as próprias certezas.

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