O que podemos classificar como mundo real?
E quanto às imagens em nossa mente? O que separa um universo do outro? A fantasia
e, mais especificamente, a ficção cientifica durante muito tempo trabalharam
com esse tipo de temática que resgata temas de discussão desde a filosofia
grega, como o Mito da Caverna, de Platão. Desde então, debater as relações
entre corpo e mente tornou-se tarefa cada vez mais sofisticada nas artes,
principalmente o cinema.
Contrao Tempo (The Source Code, 2011, Duncan Jones), apesar da
tradução cretina, termina se tornando uma bela pérola em meio às tramas simplórias
que inundam os multiplexes. Em meio a uma viagem de trem, um homem chamado Sean
desperta do que parece ser um transe e desconhece o que seu corpo estaria
fazendo naquele lugar, assim como a moça com quem divide o assento do transporte.
Absorve cada detalhe do ambiente, tentando encontrar alguma relação com a ideia
que possui a respeito de sua própria história. Aparentemente desmemoriado, o rapaz
tenta sair do trem, mas é surpreendido por uma intensa explosão que matou a
todos os passageiros do trem e o faz acordar numa escotilha com uma certeza:
ele não era Sean, mas Colter Stevens, um soldado americano tido como morto na
Guerra ao Iraque. Como explica a Tenente Goldwin, aquela explosão aconteceu na
manhã daquele dia e sua mente está sendo “implantada” no corpo de Sean,
passageiro morto no atentado, para que ele desubra a pessoa que causou a
explosão que o vitimou.
Complexo? Pois é. A trama do longa não é
algo típico do público-pipoca, já que exige mais atenção do que os
descerebrados filmes de Michael Bay para que atinja os efeitos que almeja: dar
um nó na cabeça do espectador. A princípio, a repetição de situações incomoda
um pouco, mas o crescimento qualitativo das emoções envolvidas torna a
experiência ainda mais gratificante. Com uma direção pesada e tensa, Jones trabalha
bem com seus atores, deixando-os conduzir a trama complexa em eventos e
sentimentos: Jake Gyllenhall carrega na densidade da condição de sua
personagem, sem ignorar seu lado de filme de ação; Vera Farmiga torna-se a contrapartida
perfeita para o desespero do protagonista, com uma tranquilidade tensa e
instável que se revela mais humana do que se esperava; Jeffrey Wright,
infelizmente, termina ressoando clichês de cientistas mais preocupados com a
ciência do que com os seres humanos; e Michelle Monaghan encanta pela beleza e
simpatia.
Com um clímax extremamente competente em
transmitir e emoção da sensação da eternidade de um instante perpetuado na
mente do protagonista, o diretor, entretanto, termina cedendo a um final feliz
em demasia, conduzindo seus personagens para um espaço que, diante da ausência
de qualquer explicação, gera ainda mais perguntas, deixando o espectador livre
para construir suas próprias conclusões.
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