O que entendemos por descompasso?
Trata-se de ausência de compasso, de regularidade, de medida entre dois ou mais
instâncias / parâmetros que andam em paralelo, exibindo suas imperfeições
enquanto tentam caminhar paralelamente. A partir deste preâmbulo, começo esta
resenha afirmando que Capitães de Areia (idem, 2011, Cecília Amado) comporta-se
como uma obra cinematográfica descompassada entre todos os elementos que compõem
a sétima arte.
Baseada no livro de Jorge Amado, a
obra versa sobre um grupo de garotos de rua, liderados por Pedro Bala, que
vivem nas ruas da Bahia praticando pequenos furtos e cortejando as prostitutas
da cidade. A partir desse mote, temos as várias situações que permeiam a
narrativa: o aparecimento de Dora e Zé Fuinha, as brigas com uma gangue rival e
a prisão de um deles no reformatório.
Para sua caracterização do romance,
Cecília Amado emprega uma bela paleta de cores - que torna ainda mais bela a cidade de Salvador - e uma trilha sonora eclética e
agradável - que, na verdade, funciona mais fora da tela do que dentro dela - para construir seu longa, mas parece se apoiar exclusivamente nestas
ferramentas para trazer um pouco de vida aos personagens na tela. O elenco,
formado por não-atores, até tenta se esforçar, mas não consegue, de modo algum,
dar vida para os personagens, oferecendo cenas e mais cenas constrangedoras
onde as crianças parecem que não sabem o que estão dizendo com aquelas frases.
Se, por um lado, posso louvar seu esforço em oferecer um longa que não seja
estrelado por atores globais ou com a “limpeza estética” do padrão Globo de
qualidade, percebo que não houve diligência em trabalhar as atuações dos
garotos e, se houve, ele não foi suficiente para conduzir o espectador pela
história que já encantou tantas gerações na literatura brasileira.
Mesmo que não seja um filme que faça vergonha ao cinema nacional, neste descompasso advindo da
inexperiência, a diretora termina por alavancar seu esforço no design visual e
sonoro da produção, mas termina ignorando o poder que os atores possuem de nos
fazer esquecer todos estes elementos coadjuvantes na realização fílmica quando
assistimos a uma que nos toca profundamente.
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